“50 versões de amor e prazer – 50
contos eróticos por 13 autoras brasileiras”,
livro organizado pelo professor de literatura da UFPB e escritor Rinaldo
de Fernandes, é um concorrente nacional, mas primando pelo grande valor das
narrativas, pela grande qualidade das autoras, do best-seller “Cinquenta
tons de cinza”. O livro está saindo pela Geração Editorial (SP) e chega às
livrarias de todo o país daqui a duas semanas.
“50 versões de amor e prazer” traz,
segundo o organizador, uma série de contos primorosos, de alta qualidade
literária. As 13 escritoras que integram o livro são todas importantes e
premiadas no cenário da literatura brasileira atual. São elas: Ana Miranda, Ana
Paula Maia, Andréa Del Fuego, Ana Ferreira, Állex Leilla, Cecília
Prada, Heloisa
Seixas, Juliana Frank, Leila
Guenther, Luisa Geisler, Márcia Denser, Marília Arnaud e Tércia
Montenegro.
Hoje, segundo o longo ensaio de
Rinaldo de Fernandes que vem como posfácio do livro, em poucas obras literárias
há um bom tratamento do tema do erotismo. Esta “50 versões de amor e prazer”
vai de encontro a uma série de outras obras justamente por trazer peças de
grande qualidade. As 13 autoras reunidas na coletânea constituem um conjunto
primoroso de talentos.
E como é elaborado o erotismo na
obra? Ainda segundo o ensaio do organizador, “ora romântico, refinado,
implícito, ora obsceno, pervertido, bizarro – reflete de algum modo, e
criticamente, nos momentos mais crus, a cultura da pornografia, a indústria do
sexo e seus incontáveis produtos”.
“Hot dog”, de Állex Leilla,
flagra uma mulher no trânsito que de repente se depara com um “ex-amigo” – e aí
lhe ocorrem imagens intensas, de instantes que ela passou com o rapaz; a mulher
revive ao volante cenas de sexo bizarro. “Enquanto seu lobo não vem”, de Ana Ferreira, é escrito em forma de carta, da mulher para o marido
pedófilo.
“A sesta”, de Ana Miranda, é um
conto notável – ativa o apetite do leitor ao associar os campos semânticos do
sexo e do paladar. “Perversão”, de Ana Paula Maia, é a história de um homem
casado cujo prazer erótico está em seduzir outras mulheres e dispensá-las após
um jantar romântico, deixando-as arrasadas. “O amante de mamãe”, de Andréa Del
Fuego, é demolidor – a mãe e o pai, as aparências preservadas, optam pela
traição; a filha almeja um amante como o da mãe.
Cecília Prada, em “Insólita flor do
sexo”, de um erotismo requintado, relata as descobertas de uma menina de 13
anos num colégio de freiras (tem o desejo despertado por uma das freiras que
parece “um homem” e que a menina, retocando-lhe a figura, imagina ser seu “namorado”).
“Romance de calçada”, de Juliana Frank, é magistral – trata-se
de uma pequena obra-prima da narrativa sadomasoquista. “Pérolas absolutas”, de Heloisa Seixas, traz como protagonista
uma mulher que circula de carro na noite e se depara com um travesti – a
narrativa expõe os subterrâneos, as sombras por onde os seres, solitários e
sequiosos, deslizam na grande cidade. “Romã”, de Leila Guenther, é a
história de Lia e sua relação com um professor de psicologia. No conto um
incesto é insinuado.
Luisa Geisler tem apenas 21 anos e
é uma das revelações da literatura brasileira. “Penugem”, com um
narrador-personagem astuto, aparentando não ser o que de fato é (um pedófilo,
“espectador” de sua própria filha), é um conto estupendo. As protagonistas de
Márcia Denser são irônicas, liberadas, permissivas – uma das melhores cenas de
sexo de nossa literatura é a do desfecho de “O animal dos motéis”.
Marília Arnaud é uma contista
impiedosa – o premiado “Senhorita Bruna” é sobre ciúme e vingança (traz uma
frenética cena de masturbação). “Curiosidade”, Tércia Montenegro, com a
protagonista numa varanda, “nua e indefesa”, induzida pelo parceiro, explora o
tema do exibicionismo. “Um caso familiar”, também de Tércia, é um conto
imaginativo e impactante – Jéssica, a amiga da narradora, pratica sexo (ménage)
com Rubem e a avó deste.
“50 versões de amor e prazer”,
certamente, é representativa da boa literatura feita por mulheres hoje no
Brasil.
Informa o jornalista Linaldo
Guedes.
Postar um comentário