GALERIA ALMEIDA E DALE REALIZA MOSTRA ELISEU VISCONTI – 150 ANOS

“Sob a luz tropical ainda indomada de nossa pintura, Visconti é um conquistador da atmosfera. E aquela ciência da luz e do colorido que aprendeu na França vai servir-lhe agora para dominar o vapor atmosférico, sua grande contribuição à nossa pintura.” A definição de Mário Pedrosa é uma das sínteses mais precisas da obra de Eliseu Visconti (1866-1945), precursor da modernidade na arte brasileira, cuja obra não foi compreendida pelos modernistas de 1922 e pela historiografia da arte brasileira, mas que começa a ser resgatada e revista. É nesse contexto que a Galeria Almeida e Dale promove a exposição Eliseu Visconti - 150 anos, comemorando os 150 anos de nascimento do artista. A mostra, com curadoria de Denise Mattar, traz ao público, entre 29 de outubro a e 10 de dezembro de 2016, os principais momentos de sua obra, como as inéditas Busto de Mulher (1900) e Baixada de Vila Rica (1924) e obras que não são vistas há mais de quarenta anos, como Moça no Trigal (1916) e Estendendo roupa (1922). A mostra conta com a consultoria de Christina Gabaglia Penna e com o suporte do Projeto Eliseu Visconti, que através do neto do artista, Tobias Stourdzé Visconti, vem empreendendo um sério trabalho de resgate e de catalogação da obra de Visconti.

Eliseu Visconti - 150 anos insere-se dentro de uma ação institucional da galeria, que busca resgatar grandes talentos da arte brasileira como as mostras já apresentadas de Raimundo Cela, Ernesto de Fiori, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Willys de Castro, Guignard, Alfredo Volpi e Aldo Bonadei.

SOBRE
 
A EXPOSIÇÃO

Reunindo 40 pinturas que marcam mais de três décadas de sua trajetória artística – desde as primeiras obras, do final dos anos 1880, até as pinturas feitas em meados dos anos 1930 -, Eliseu Visconti - 150 anos apresentará a diversidade temática e estética do artista de formação acadêmica que transitou pelo impressionismo e é, hoje, considerado um dos principais nomes do pré-modernismo.

Três trabalhos do artista realizados ainda antes de sua primeira viagem à Europa, mas que já demonstram a sua busca por novos caminhos: Casebre no fim da praia do Flamengo (1888), Menino na Ladeira (1889) e Uma rua da favela (1890). São paisagens que fogem da idealização e da fatura acadêmicas, e que evidenciam o interesse de Visconti pela pintura ao ar livre, condenada pelas regras da Academia. “Uma rua da favela é conhecida como a primeira obra de arte a retratar essa realidade. O trabalho mostra uma mulher negra junto a um barraco segurando nas mãos uma bacia. Não há na cena nenhum romantismo e nem os meios-tons tão prezados pela Academia. A crueza da luz tropical dramatiza as tábuas desiguais do barraco construído com densas pinceladas e a brancura das roupas que secam na meia-porta, improvisada em varal”, afirma a curadora Denise Mattar.

Oito obras, de diferentes períodos, mostram o envolvimento de Visconti com a paisagem brasileira. O conjunto traça o percurso do artista rumo à sua produção final, na qual tudo se torna uma questão de luz. Paisagem de Santa Tereza (1910) tem um registro próximo aos primeiros trabalhos dos anos 1890, quando o artista descobria o ar livre e as nossas cores. Estendendo Roupa (1922) mostra uma cena do cotidiano que Visconti retratou muitas vezes, ao longo de toda a sua vida, sempre dando protagonismo às roupas e suas formas muito brancas dispostas no varal. Em Garotos da Ladeira (1928), as bananeiras, sob intenso sol, contrapõem-se em peso cromático ao bando de crianças que organiza uma brincadeira.

De seu primeiro período em Paris, momento no qual Visconti realiza a maior parte de seus nus, a exposição apresenta seis obras. Em Nu feminino (1894), vemos uma jovem deitada num ângulo incomum sobre um divã branco, contrastado num fundo negro. Uma almofada listrada em branco, e o canto da parede, de vermelho denso, equilibram a composição. Toda a figura da moça é delicada e sensual, mas o artista quebra intencionalmente a atmosfera de sonho revelando detalhes sutilmente realistas, como os pelos pubianos e uma unha suja. A Modelo (1895) mostra uma mulher se despindo, com o rosto oculto por seu vestido, compondo o registro de um momento íntimo, caseiro. A pequena dimensão da obra, quase uma miniatura, acentua o clima de segredo. Busto de mulher, c.1895, retrata uma jovem apoiada em travesseiros. Um de seus braços está em arco e sua mão apoia-se no outro braço. A modelo olha para o pintor, mas sua mente está longe. Seus longos cabelos estão soltos e os fios, espalham-se desordenadamente, colando-se ao seu corpo, o que imprime à cena uma nota de desalinho, bastante dissonante dos padrões acadêmicos.

Ao longo de sua vida, mas especialmente em seus últimos anos, os modelos preferidos de Visconti são Louise e seus filhos. Boa noite (1910) retrata uma cena doméstica da família, então acrescida de mais um filho. A composição mostra Louise segurando o recém-nascido Tobias, que recebe um beijo de boa noite da irmã Yvonne. Na pintura, realizada em tons castanho escuro, apenas o rosto do bebê adormecido e sua veste clara aparecem iluminados, o que acentua o clima noturno. A delicadeza do beijo é observada com encanto pela mãe, criando uma atmosfera de extrema ternura. Louise (1928) é um retrato ao ar livre da esposa do pintor. O sol ilumina seus ombros e cabelos, criando uma aura delicada que realça a expressão séria e serena da modelo. Retratos de família, c. 1934, é considerado o último retrato conhecido da esposa com os três filhos do casal.

O artista notabilizou-se também na composição de autorretratos. A sua juventude de cabelos e barbas castanhas estão em Autorretrato (1900), único em que se retrata de torso nu, e Autorretrato (1905), no qual se retrata como um artista pleno, traçando uma persona que manterá até sua morte: olhar penetrante, barba densa, mas curta e cuidadosamente aparada, camisa branca e gravata borboleta. A sua maturidade, em cabelos e barbas brancas, está em Ilusões Perdidas (1933). Originalmente denominada Inspiração, a tela retrata o artista em contato com musas que saem de sua paleta.

Dedicando-se à pintura ao ar livre, executou diversas obras dos Jardins de Luxemburgo, onde em atmosfera doce e melancólica surgem figuras femininas contemplativas, imersas em seus afazeres, como nas obras e Jardim do Luxemburgo eTricoteuse (1905). A primeira delas mostra um homem apoiado numa balaustrada tendo ao lado um menino, a outra, retrata uma mulher entretida num bordado. É o mesmo motivo daTricoteuse, cujo modelo na realidade não parece fazer tricô, mas outro trabalho manual. Para a pesquisadora Mirian Nogueira Seraphim, todas essas pinturas são preparatórias para a impactante obra Maternidade, pertencente ao acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

A mostra também trará as criações de Visconti para o design, como os Selos Comemorativos do 1º Centenário da Independência (1922), o Cartaz da Companhia Antartica (1920) e criações para vasos e moringas, realizadas nos primeiros anos do século 20, colocando o artista como precursor do design brasileiro e um dos principais incentivadores de sua profissionalização.

O ARTISTA

Eliseu d’Angelo Visconti nasceu em 30 de julho de 1866 na Comuna de Giffoni Valle Piana, Província de Salerno, Itália. Em 1873, imigra com sua irmã Marianella para o Brasil, indo diretamente para a fazenda de propriedade de Luiz de Souza Breves, o Barão de Guararema, em Além Paraíba. A profunda afeição da Baronesa pelo pequeno Eliseu coloca-o ainda jovem estudando no Rio de Janeiro. Ingressa em 1883 no Liceu de Artes e Ofícios. Dois anos depois, sem abandonar o Liceu, matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes, tendo como professores Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo, Henrique Bernardelli, Victor Meirelles e José Maria de Medeiros.

Em 1890, Visconti acompanha o grupo dos “modernos”, formado por professores e alunos que se rebelam contra as normas de ensino e abandonam a Academia de Belas Artes para fundar o “Ateliê Livre”. Aprovadas as reformas pelo governo republicano, a Academia transforma-se na Escola Nacional de Belas Artes. Visconti volta a frequentá-la e, após concurso, recebe em 1892 o primeiro prêmio de viagem ao exterior concedido pela República.

Em Paris, ingressa na École Nationale et Spéciale des Beaux Arts e cursa arte decorativa na École Guérin, com Eugène Grasset, um dos expoentes do art nouveau. Viaja a Madri para cumprimento de suas tarefas de bolsista, onde realiza cópias de Diego Velázquez, absorvendo soluções para os efeitos de reflexão da luz natural, mais tarde utilizadas em alguns de seus trabalhos. Na capital francesa, expõe consecutivamente nos salões de arte e, após receber medalha de prata na Exposição Universal de Paris de 1900 por suas obras Oréadas e Gioventu, Visconti regressa ao Brasil.

No seu período de formação na França, Visconti, espírito aberto às inovações, modifica sua pintura tanto na temática quanto na execução da composição, adquirindo as técnicas do impressionismo e assimilando as leituras contemporâneas do simbolismo e do artnouveau. Visconti, entretanto, utilizaria esses estilos de forma muito pessoal. Sua opção por novas linguagens não significou um rompimento com a tradição nem com os ensinamentos adquiridos no Brasil.

Em 1901, Visconti organiza sua primeira exposição individual na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Além das telas a óleo trazidas da França, expõe os trabalhos de design, resultado de seu aprendizado com Grasset. A pioneira incursão de Visconti pelo design incluiu ainda cartazes, cerâmicas, tecidos, papéis de parede, vitrais e luminárias.

A primeira exposição de Visconti, que teve boa acolhida apenas entre os críticos da época, seria em parte responsável pelo convite que lhe fez o prefeito Pereira Passos, em 1905, para executar todas as pinturas da sala de espetáculos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Pesou também no julgamento do prefeito o fato de Visconti estar em Paris acompanhando as inovações artísticas à época. As decorações, executadas em Paris entre 1905 e 1907, seriam consideradas por Visconti sua mais importante obra.

Entre 1908 e 1913, Visconti é professor de pintura na Escola Nacional de Belas Artes, cargo a que renuncia para retornar à Europa e realizar a decoração do foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sua obra prima, concluída em 1916.

Após 1920, Eliseu Visconti não mais deixaria o Brasil. Participa do processo de contínua modernização urbana da cidade do Rio de Janeiro, executando importantes decorações para a Biblioteca Nacional, para o Palácio Tiradentes e para o Palácio Pedro Ernesto.

Em 1922 é agraciado com a Medalha de Honra na Exposição Comemorativa do Centenário da Independência. Acompanha com interesse os acontecimentos da Semana de Arte Moderna, para a qual não foi convidado. Pietro Maria Bardi comentaria: “Esqueceram o único realmente moderno de sua época.”

Realiza na Galeria Jorge, em 1926, nova exposição de design, reapresentando os trabalhos antigos e expondo agora os selos postais premiados em 1904, bem como o ex-libris e o emblema da Biblioteca Nacional.

O alargamento do palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em meados da década de 1930, iria proporcionar a Eliseu Visconti um retorno às emoções da mocidade.

Nesse mesmo período, entre 1934 e 1936, leciona no curso de extensão universitária de artes decorativas da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Para Guilherme Cunha Lima, tem início então, com Visconti, o ensino de design no Brasil.

Prosseguiria Eliseu Visconti em sua busca incansável pelo novo, evoluindo em sua técnica e desconhecendo estágios de decadência. Faleceu em 15 de outubro de 1944, aos 78 anos de idade.

SERVIÇO
 
Eliseu Visconti – 150 anos

Período de exposição: de 31 de outubro a 10 de dezembro de 2016

De segunda a sexta das 10h às 18h, sábado das 10h às 13h

Galeria Almeida e Dale
 
R. Caconde, 152 - Jardim Paulista, São Paulo - SP
 
Tel.: 11 3887-7130
 
De segunda a sexta, das 10h às 18h; sábados das 10h às 14h
 

Fonte: A4&Holofote

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