Valdiney Ferreira, autor do livro Vinho e mercado:
fazendo negócios no Brasil, que será lançado pela Editora FGV no dia 5 de
agosto, diz que a qualidade dos vinhos brasileiros passou por verdadeira
revolução nas últimas décadas. Mas o acordo entre Mercosul e União Europeia,
vantajoso para o consumidor brasileiro de vinhos, precisa trazer, também, algum
tipo de compensação para os produtores nacionais. Na obra, Ferreira, que é
professor do curso Mercado e Negócios do Vinho, reúne análises de líderes
empresariais e especialistas desse mercado. Seu objetivo é responder a uma
questão central: a produção brasileira pode suprir a demanda interna e até
competir no cenário mundial, ou seremos reconhecidos apenas como um grande importador
de vinhos?
A produção nacional tem condições de prevalecer no mercado interno e ser competitiva internacionalmente?
Valdiney Ferreira: Do ponto de vista da qualidade,
tem totais condições. O problema é que os vinhos brasileiros sofrem taxações superiores
não apenas na comparação com os europeus, mas também em relação aos produtos
similares do Mercosul. Cerca de 45% dos vinhos importados pelo Brasil em 2018
foram chilenos.
E como o acordo do Mercosul com a
União Europeia vai afetar o mercado brasileiro?
VF: Para o consumidor terá um impacto positivo,
pois pode tornar os vinhos europeus muito mais acessíveis. Afinal o imposto de
importação de 27% será reduzido a zero. Pelo lado dos produtores brasileiros,
será preciso algum tipo de compensação, porque o "custo Brasil" ainda
é muito alto. As tarifas pagas pelos produtos europeus chegarão a 0%, em até 12
anos, então será preciso usar bem esse tempo para melhorar a competitividade da
indústria do vinho do Brasil.
Há políticas públicas que atendam
a essa necessidade?
VF: Temos que esperar ainda para avaliar com mais
propriedade o que será na prática o fundo de R$150 milhões que foi anunciado.
Em termos de comparação na UE os produtores têm um programa com recursos anuais
de € 1.1 bilhão. Houve e há iniciativas na área fiscal. O Governo do Rio Grande
do Sul, por exemplo, zerou o ICMS para operações dentro do Estado. Seria
importante que outros estados que são grandes consumidores fizessem o mesmo. É
possível e têm sido discutidas facilitações de IPI, pelo Governo Federal. No
entanto, mais do que medidas pontuais, é fundamental que tenhamos uma política
definitiva para o setor. Portugal, por exemplo, é um país que tem dado
incentivos importantes para a indústria de vinhos, o que muitas vezes não quer
dizer dinheiro e, sim, facilitar a tomada de capital para financiamento da
renovação de vinhedos, ou pesquisa e tecnologia.
O senhor foi muito enfático ao
responder que os vinhos nacionais são competitivos em termos de qualidade.
Houve uma evolução nas últimas décadas?
VF: Não diria evolução e, sim, revolução. Na década
de 90, com a abertura do mercado brasileiro, as multinacionais que operavam
aqui decidiram sair do país. Com isso perdemos empregos e investimentos. Ao
mesmo tempo, ficou a mão-de-obra, extremamente qualificada, que passou a criar
os próprios negócios. De lá para cá, houve um salto em termos de tecnologia,
técnica, conhecimento e diversificação. Hoje se produz, de acordo com as
características do local, em todo o Rio Grande do Sul; em Santa Catarina; e em Minas
e São Paulo, os vinhos de inverno; na Bahia e em Pernambuco, no Vale do São
Francisco. Nossos vinhos conquistaram reconhecimento internacional.
Esse mercado, então, tem
perspectivas de expansão?
VF: Com certeza. Vale inclusive fazer uma ressalva.
Os espumantes nacionais avançaram tanto que já conseguem ser competitivos até
do ponto de vista do custo-benefício, dentro e fora do Brasil. Esse processo
pode se aprofundar e se estender para os vinhos tranquilos (como são chamados
os vinhos sem espuma), que têm reconhecimento, mas perdem pelo custo. Hoje o
mercado de vinhos no Brasil movimenta em torno de R$ 14 bilhões (off-trade +
on-trade) com potencial para aumentar muito. O livro, aliás, será lançado
durante o Seminário Vinho&Mercado 2019, que trará diversos especialistas
para debater essas perspectivas.
Serviço
Lançamento do livro Vinho e mercado:
fazendo negócios no Brasil
Data: 5/8/19
Horário: 17h30
Local: Seminário Vinho & Mercado 2019, parte da programação do Rio WineandFood Festival, no Centro Cultural FGV, na Praia de Botafogo 186.
Fonte: Assessoria de Imprensa
Postar um comentário