O Escritório de Arte Rosa Barbosa realiza a coletiva Paisagens, horizontes e trocas
até 28 de abril. Com curadoria de Theo Monteiro, a mostra reúne
trabalhos de sete artistas contemporâneos: Guy Veloso, José Zaragoza, No Martins, Osvaldo Gaia, Rafael Zavagli, Renan
Cepeda e Tatewaki Nio. A exposição ocorre no Jardim Europa, no antigo ateliê de Zaragoza, pintor e
designer falecido em2017.
"São nomes de distintas poéticas e suportes, mas que nem por isso
deixam de possuir afinidades ou olhares complementares", pontua Monteiro.
Colocadas lado a lado, as obras dividem-se entre fotografias, esculturas,
pinturas, objetos e vídeo, conjunto que tangencia as figuras e temáticas
enunciadas pelo título que dá nome à exposição.
A paisagem surge no espaço expositivo não como
um retrato fidedigno de uma natureza campestre, mas, sim, como uma composição
metafórica criada pelos artistas e que, muitas vezes, parecem reunir cenas
várias em uma só tela - ou em um
único agrupamento, no caso de polípticos. Fazendo uso de tons azuis e
esverdeados, o mineiro Rafael Zavagli cria paisagens
a óleo, colagens de planos sobrepostos que confundem o espectador. São cenas
silenciosas, marcadas por vidas que ali não estão expostas. A presença humana é
revelada discretamente por meio de rastros deixados pelo artista, a exemplo de
um barraco aparentemente iluminado por uma luz elétrica, que se destaca em meio à noite pintada.
A paisagem como resultado de uma construção humana surge ainda nas
fotografias de Renan Cepeda, que integra a mostra com trabalhos da série Vão de Almas. No
conjunto de retratos, o fotógrafo lança mão da técnica de light
painting, uma espécie de pichação com luz que realiza quando
à frente de seus personagens, descendentes de escravos, habitantes da
comunidade de Kalunga, em Goiás. Nesses
trabalhos, Cepeda faz fotos na total escuridão, iluminando partes da cena com o
auxílio de uma lanterna, revelando apenas elementos e figuras que lhes
interessa.
Japonês radicado no Brasil há quase duas décadas, Tatewaki
Nio integra a exposição com trabalhos de Neo-andina,
série realizada em El Alto, cidade vizinha de
La Paz que nasceu como subúrbio da capital boliviana. Pobre, árida e de aspecto
quase rural, a região ganha as lentes do fotógrafo por suas grandes
edificações kitsch e ultra-coloridas, cujas fachadas
contrastam com o monocromatismo do lugar. Projetados pelo arquiteto Freddy Mamani,
os edifícios abrigam Salões de Eventos, propriedades de uma burguesia
ascendente que, em função da globalização, herda uma
estética extravagante típica de lugares como Las Vegas e a impõe em diálogo com motivos locais em um
claro símbolo de afirmação identitária e de status social.
No horizonte da paisagem contemporânea, o paulistano No
Martins busca situar o corpo negro, alvo de violências e
preconceitos por parte da sociedade. Em uma
performance em vídeo, realizada em plena Praça da Sé, o artista se tranca em uma jaula com os olhos vendados e ali permanece em um dia de frio intenso, chamando atenção para a questão
carcerária no Brasil, a qual o curador pontua como uma das facetas mais
perversas do racismo. "Perversa porque é, sobretudo, institucionalizada,
fazendo parte do funcionamento de nossa justiça", afirma.
No que diz respeito às trocas, compõem a mostra trabalhos de dois artistas de Belém do Pará,
Osvaldo Gaia e Guy Veloso. "A troca aqui é entendida não como uma relação
comercial, mas como uma conexão com o entorno, com a vida, com a natureza e com
o divino", afirma Theo Monteiro.
A obra de Osvaldo Gaia toma como fundamento sua
pesquisa e consequentes experimentações dentro do universo amazônico. A partir
disso, o artista cria elementos que se identificam como estruturas escultóricas
- objetos pouco usuais, que causam no espectador certa estranheza. Gaia mira na
estética das raízes, canoas e igarapés, de onde vem sua inspiração, para dar
vida a maquinários de formas elegantes, que convida o público a perceber como
os povos da floresta se relacionam com o mundo que têm ao redor.
Através da fotografia, Guy Veloso aborda as
trocas e mediações que ocorrem em manifestações
religiosas populares. Na mostra, ele apresenta imagens
da série Penitentes: dos Ritos de Sangue à Fascinação do Fim do Mundo,
registros de transes que, apesar do caráter documental, são dotados de uma aura
espiritual. A relação que estabelece com seus fotografados parece colocá-lo
como alguém que compartilha da mesma fé - intimidade que é partilhada com seus
espectadores, inclusive.
A coletiva Paisagens, horizontes e
trocas homenageia ainda o pintor, designer e publicitário José Zaragoza,
falecido em 2017. Natural de Alicante, na
Espanha, o artista radicou-se no Brasil ainda nos anos 1950. Ao longo de seus
mais de 60 anos de carreira, transitou entre a figuração e o abstracionismo,
focando especialmente na produção de desenhos e pinturas - duas das quais
integram a exposição, montada em seu antigo ateliê, no Jardim Europa. Sediado em um
edifício na Rua Amauri, no Jardim Europa, o espaço foi projetado pelo arquiteto
Aurélio Martinez Flores.
Sobre o Escritório de Arte Rosa Barbosa
Voltado para arte contemporânea em todas as suas variantes, o Escritório de Arte Rosa Barbosa trabalha com artistas independentes do mercado nacional e internacional, prestando consultoria a colecionadores interessados em renovar ou mesmo a iniciar suas coleções no campo das artes plásticas e visuais.
No mercado desde 1992, o Escritório é dirigido pela colecionadora que dá
nome ao negócio, que desde 2010 deixou de ser galeria para atuar sob o formato
de uma assessoria personalizada, conforme o briefing do cliente, de acordo com
seu budget e personalidade.
Sem uma sede específica, o Escritório de Arte Rosa Barbosa conta
com a parceria de outros espaços expositivos para a realização
de mostras sob sua organização.
Serviço:
Exposição Paisagens, horizontes e trocas
Local: Ateliê Zaragoza
Endereço: Rua Amauri, 76 | Jardim Europa
Período expositivo: de 1º a 30 de abril
Visitação: de segunda à sexta, das 11h às 18h aos sábados, das 11h às 14h
Telefone: (11) 98266-0861 e (11)97121-9272
Entrada gratuita
Fonte/Imagem-reprodução/divulgação: Assessoria de Imprensa –
Legenda: Neo-andina #102, 2016, Tatewaki Nio.
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