Após ser
aplaudido por mais de 15 minutos em sua première mundial em
Cannes, na última segunda-feira (20/5), ‘A VIDA INVISÍVEL DE
EURÍDICE GUSMÃO’, sétimo longa-metragem de Karim Aïnouz,
conquistou nesta sexta-feira o prêmio de Melhor Filme na mostra Un Certain
Regard – a primeira vez que um filme brasileiro é contemplado com o prêmio
máximo nesta categoria.
“É um importante prêmio do cinema
mundial e muito importante para o cinema brasileiro em um ano em que tivemos
uma representação maravilhosa, com o filme do Kleber Mendonça e do Juliano
Dornelles, o da Alice Furtado e o filme produzido pelos irmãos Gullane. Antes de
qualquer coisa, é importante que este prêmio possa incentivar o futuro do
cinema brasileiro, a diversidade da nossa cultura para que tenhamos um Brasil
melhor do que estamos vivendo agora. Queria dedicar especialmente para a minha
amada Fernanda Montenegro, para todas as atrizes do filme e para todas as
mulheres do mundo”, comemora o diretor.
“Esse prêmio é muito importante para o Brasil,
principalmente no momento atual, quando a cultura precisa ser abraçada. Um
filme brasileiro vem para Cannes e ganha esse prêmio prova que o investimento
que se fez em educação e cultura no Brasil foi muito importante. E que a gente
continue fazendo isso para que a cultura brasileira permaneça muito bem
representada lá fora”, faz coro Rodrigo Teixeira, produtor do longa.
Na última
segunda-feira, a sessão teve reação entusiasmada da plateia, que aplaudiu o
filme por mais de 15 minutos. Após a exibição, o diretor dedicou o trabalho às
mães solo e às mulheres que resistem:
“O Brasil é um
dos países que mais mata mulheres no mundo e também um dos países com o maior número
de mães solo. Eu dedico este filme as estas e a todas as mulheres. Eu gostaria
de homenagear não a sobrevivência, mas a resistência. É importante também
falarmos sobre a intolerância, esse sentimento devastador que ameaça e divide
não só o Brasil, mas o mundo inteiro e contra o qual o amor é uma das formas
mais poderosas de resistência”, disse Karim, que também fez questão de
agradecer a generosidade de Fernanda Montenegro, atriz convidada do longa.
O diretor ainda
dedicou a sessão a todos os que estiveram na rua durante o 15M, lutando pela
continuidade da educação no Brasil e pelo futuro. “Somos sempre mais fortes
juntos do que separados”, disse Karim.
O filme já
recebeu elogios de algumas das mais prestigiosas publicações do segmento de
cinema no mundo. Segundo David Rooney, do The Hollywood Reporter, “‘A Vida
Invisível de Eurídice Gusmão’ é um drama assombroso que celebra a resiliência
das mulheres, mesmo quando elas suportam existências combalidas”, diz Rooney,
que ainda chama a atenção para as texturas brilhantes, as cores ousadas e os
sons exuberantes que servem para ”intensificar a intimidade do deslumbrante
melodrama de Karim Aïnouz sobre mulheres cujas independências mentais
permanecem inalteradas, mesmo quando seus sonhos são destruídos por uma
sociedade patriarcal sufocante”.
Já para Lee
Marshall, do Screen Daily, Karim prova que o “eletrizante e emocionante” filme
de época pode ser apresentado de forma verdadeira e ao mesmo tempo ser um
deleite. “Com a forte reação crítica e o boca-a-boca que essa contundente e
bem-acabada saga familiar parece suscitar, é quase certo que o filme viaje para
além do Brasil e dos territórios de língua portuguesa”, prevê o crítico, que
adverte: “É melhor você deixar um lenço separado para as cenas finais”.
Livre adaptação
do romance homônimo de Martha Batalha, ‘A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE
GUSMÃO’, que tem previsão de lançamento no circuito comercial em
novembro deste ano, é uma produção da RT Features, de Rodrigo Teixeira, em
coprodução com a alemã The Match Factory e os brasileiros Sony Pictures Brasil,
Canal Brasil e Naymar (infraestrutura audiovisual).
Sobre o filme:
Definido pelo
cineasta como um melodrama tropical, a obra traz nos papeis principais duas
jovens estreantes no cinema. Tanto Carol Duarte, reconhecida por seu trabalho
na TV aberta, como Julia Stockler, experiente atriz de teatro, foram escolhidas
após participarem de um concorrido teste com mais de 300 candidatas. O elenco
traz ainda Fernanda Montenegro, como atriz convidada, Gregorio Duvivier,
Bárbara Santos, Flavio Bauraqui e Maria Manoella.
“Eu trabalhei
com um maravilhoso grupo de atrizes e atores. Eles são todos muito diferentes,
de diferentes gerações, diferentes registros de atuação - e o desafio foi
alcançar o mesmo tom, a mesma vibração”, conta o diretor.
“Eu fiquei
profundamente tocado quando eu li o livro. Disparou memórias intensas da minha
vida. Eu fui criado no nordeste dos anos 60, numa sociedade machista e
conservadora, dentro de uma família matriarcal. Os homens ou haviam indo embora
ou eram ausentes. Numa cultura patriarcal, eu tive a oportunidade de crescer
numa família onde as mulheres comandavam o espetáculo - elas eram as
protagonistas”, recorda Aïnouz. “O que me levou a adaptar ‘A Vida Invisível de
Eurídice Gusmão’ foi o desejo de dar visibilidade a tantas vidas invisíveis,
como as da minha mãe, minha avó, das minhas tias e de tantas outras mulheres
dessa época. As histórias dessas personagens não foram contadas o suficiente,
seja em romances, livros de história ou no cinema”, completa.
Segundo o
diretor, trata-se de um melodrama tropical porque a abordagem mistura preceitos
clássicos do gênero, mas com um olhar que busca se adaptar a uma
contemporaneidade brasileira.
“Eu sempre quis
fazer um melodrama que pudesse ser relevante para os nossos tempos. Como eu
poderia me engajar com o gênero e ainda torná-lo contemporâneo? Como eu poderia
criar um filme que fosse emocionante como uma grande ópera, em cores
florescentes e saturadas, maior que a vida? Eu me lembrava de Janete Clair e
das novelas lá do início. Eu queria fazer um melodrama tropical filmado no Rio
de Janeiro, uma cidade entre a urbis e a floresta”, pondera.
Rodrigo Teixeira
foi o responsável por amarrar o projeto com o diretor. Ao receber o manuscrito
de Martha Batalha, o produtor acreditou que Aïnouz seria a melhor pessoa a
contar a história, não apenas pelo estilo de sua filmografia, mas também pela
interseção entre o livro e a história familiar do diretor, onde observou a
invisibilidade das mulheres conduzidas por uma geração machista.
“Quando eu li o
livro eu pensei muito no Karim, tanto pela narrativa ter relação com a história
pessoal de vida dele, especificamente com o momento que ele estava vivendo
naquela época, e também porque o universo me remetia muito a dois filmes dele:
‘O Céu de Suely’ e ‘Seams’, o primeiro de sua carreira,
ambos projetos que falam de mulheres fortes, que lutam para sobreviver na nossa
sociedade”, explica Teixeira. “Além disso, há tempos Karim me dizia que
gostaria de filmar um melodrama, que queria realizar um longa que se
aproximasse de Fassbinder, de Sirk. E vi nessa história da Martha Batalha um potente
melodrama a ser adaptado. Por tudo isso, tive a certeza que era um filme para
ele dirigir. Fazia tempo que estávamos buscando uma grande história para
voltarmos a trabalhar juntos, então enviei para ele o manuscrito e ele topou na
hora”, continua o produtor.
•••
As irmãs Guida e Eurídice são como duas faces da mesma moeda – irmãs apaixonadas, cúmplices, inseparáveis. Eurídice, a mais nova, é uma pianista prodígio, enquanto Guida, romântica e cheia de vida, sonha em se casar e ter uma família. Um dia, com 18 anos, Guida foge de casa com o namorado. Ao retornar grávida, seis meses depois e sozinha, o pai, um português conservador, a expulsa de casa de maneira cruel. Guida e Eurídice são separadas para sempre e passam suas vidas tentando se reencontrar, como se somente juntas fossem capazes de seguir em frente.
Com roteiro assinado por Murilo Hauser, em colaboração com a uruguaia Inés Bortagaray e o próprio diretor, o longa – ambientado majoritariamente na década de 50 – foi rodado no Rio de Janeiro, nos bairros da Tijuca, Santa Teresa, Estácio e São Cristóvão.
A direção de fotografia é da francesa Hélène Louvart, que assina seu primeiro longa brasileiro e acumula trabalhos importantes na carreira, como os filmes ‘Pina’, de Wim Wenders; ‘The Smell of Us’, de Larry Clark; ‘As Praias de Agnes’, de Agnès Varda; e ‘Lázaro Feliz’, de Alice Rohwacher, entre outros. A alemã Heike Parplies, responsável pela edição do longa-metragem ‘Toni Erdmann’, do diretor Maren Ade, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, assina a montagem.
A VIDA INVÍSIVEL
DE EURÍDICE GUSMÃO’ é uma coprodução entre Brasil (Sony
Pictures e Canal Brasil) e Alemanha (Pola Pandora), na qual a empresa alemã The
Match Factory é responsável pelas vendas internacionais.
SINOPSE
Rio de Janeiro,
1950. Eurídice, 18, e Guida, 20, são duas irmãs inseparáveis que moram com os
pais em um lar conservador. Ambas têm um sonho: Eurídice o de se tornar uma
pianista profissional e Guida de viver uma grande história de amor. Mas elas
acabam sendo separadas pelo pai e forçadas a viver distantes uma da outra.
Sozinhas, elas irão lutar para tomar as rédeas dos seus destinos, enquanto
nunca desistem de se reencontrar.
FICHA TÉCNICA
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Murilo Hauser
Co-roteiro: Inés Bortagaray e
Karim Aïnouz
Baseado na obra homônima de Martha
Batalha
Elenco: Carol Duarte, Julia
Stockler, Gregorio Duvivier, Bárbara Santos, Flávia Gusmão, Antônio Fonseca,
Flavio Bauraqui, Maria Manoella e participação especial de Fernanda Montenegro.
Produtor: Rodrigo Teixeira
Co-produtores: Michael Weber e
Viola Fugen.
Empresas produtoras: RT Features,
Pola Pandora, Sony Pictures, Canal Brasil e Naymar.
Produtores Executivos: Camilo
Cavalcanti, Mariana Coelho, Viviane Mendoça, Cécile Tollu-
Polonowski, André Novis
Produtor Associado: Michel Merkt
Diretora Assistente: Nina Kopko
Direção de Fotografia: Hélène
Louvart (AFC)
Direção de Arte: Rodrigo Martirena
Figurino: Marina Franco
Maquiagem: Rosemary Paiva
Diretora de Produção: Silvia
Sobral
Montagem: Heike Parplies (BFS)
Montagem de som: Waldir Xavier
Som direto: Laura Zimmerman
Música Original: Benedikt Schiefer
Mixagem: Björn Wiese
Idioma: Português
Gênero: Melodrama
Ano: 2019
País: Brasil
SOBRE:
DIRETOR
Formado em
Arquitetura pela Universidade de Brasília, Karim fez mestrado em Teoria do
Cinema pela Universidade de Nova York e participou do Whitney Independent Study
Program. Cineasta premiado mundialmente, roteirista e artista visual, realizou
diversos curtas-metragens, documentários e instalações. Dirigiu os
longas-metragens ‘Madame Satã’ (2002), ‘O Céu de
Suely’ (2006), ‘Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo’
(2009, codirigido com Marcelo Gomes), ‘O Abismo Prateado’ (2011,
produzido pela RT Features), ‘Praia do Futuro’ (2014), além do
documentário ‘Aeroporto Central’ (2018). O próximo longa-metragem,
‘A Vida Invisível de Eurídice Gusmão’, tem previsão de lançamento em
novembro de 2019. Para a televisão, dirigiu a minissérie ‘Alice’,
filmada no Brasil e transmitida pelo canal HBO em 2008. Aïnouz é um dos tutores
do laboratório de roteiros do Porto Iracema das Artes em Fortaleza e membro da
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
RT
FEATURES
Fundada e
dirigida por Rodrigo Teixeira, a RT Features é uma produtora nacional e
internacional de conteúdo cultural e entretenimento para cinema e televisão,
com base em São Paulo, Brasil, e escritório em Nova York, nos EUA. Dentre
outras produções, seu currículo conta com os longas-metragens ‘O Cheiro do
Ralo’ (2006), ‘O Abismo Prateado’ (2010), ‘Tim Maia’ (2014),
‘Alemão’ (2014), ‘O Silêncio do Céu’ (2016) e a série ‘O
Hipnotizador’ (para a HBO Latin America em 2015).
No mercado
internacional, a RT Features produziu os longas ‘Frances Ha’ (2013), ‘Love
is Strange’ (2014), ‘Love’ (2015), ‘Mistress America’ (2015),
‘The Witch’
(2016), ‘Patti Cake$’ (2017) e o indicado ao Oscar ‘Call Me By Your
Name’ (2017). Em 2018 a RT Features produziu o novo filme de James Gray, ‘Ad
Astra’, e no Brasil o longa-metragem ‘A Vida Invisível de Eurídice
Gusmão’, de Karim Ainouz, ambos com previsão de estreia em 2019.
Dedicada a
trabalhar com jovens e talentosos diretores desde a sua criação, a RT Features
formou uma joint venture com a Sikelia Productions, de Martin Scorsese, com o
objetivo de produzir filmes de cineastas emergentes em todo o mundo. O primeiro
longa-metragem desta parceria, ‘A Ciambra’, estreou na última edição da
Quinzena dos Realizadores, e os próximos estão em fase de produção.
Fonte/Foto-reprodução/divulgação: Assessoria de Imprensa
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