Teatro,
filosofia, performance, antropologia e esquizoanálise se unem em "Vida
em Desborda", espetáculo performático com concepção, direção e
atuação de Clarissa Alcantara, realizado em parceria com a videoartista Tereza
Marinho. A turnê de estreia na capital já tem data marcada: dias
30, 31/08 e 01/09, no MAP, Museu de Arte da Pampulha, com entrada gratuita. Nos
dias 13, 14 e 15/09 o espetáculo poderá ser assistido no Centro Cultural da
UFMG. Além das apresentações, também serão promovidas duas rodas de
conversa. Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal
de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
Há 30 anos
Clarissa Alcantara criou o Teatro Desessência, uma linguagem teatral que se
realiza a partir de atos/processos que propõem vivências intensivas à presença
do ser-do-ator no ato. As ferramentas são o corpo próprio, o audiovisual e
diferentes recursos de produção sonora que, em composição, colocam em questão a
presença do corpo como representação e sua relação de afetação direta com o
espaço, o som e a palavra na produção de imagens e sentidos. Os atos/processos
são gravados em vídeo e, a partir deste material, se compõe a dramaturgia
processual e híbrida desta obra teatral.
É
neste contexto que surge o espetáculo “Vida em Desborda”, uma série
performática composta a partir de 2 atos/processos-rituais, são eles: “RITO I
grito no abismo cartas para minha morta” e “RITO II nota pública: “para acabar
com o juízo…”. Em cada momento da apresentação, se instauram vivências efetivas
com as forças humanizadas da natureza, compondo arte e filosofia em conexão com
a dimensão espiritual, sem nenhuma abordagem religiosa instituída.
"Podemos
dizer, num tom mais poético, que se trata de uma “gira” clandestina, que
acontece pela potência dos encontros, livre dos territórios demarcados, pelo
desejo emergente de expressão dessas forças espirituais que vibram
interiormente e que se manifestam em nosso cotidiano de modo tão concreto e,
muitas vezes, imperceptível. Uma vida que desborda seus limites mais sutis
entre a dimensão sensível e o agir prático, entre a realidade concreta e uma
“realteridade”, uma realidade outra, incorpórea, que escapa a lógica racional,
pois as lógicas que lhe interessam são as que escapam de qualquer razão. É
desta maneira que o Teatro Desessência opera em Vida em Desborda, pondo em giro
as potências da vida que produzem, enfim, novas lógicas de expressão",
explica Alcantara.
A
dramaturgia da obra se revela durante os atos/processos, que são, em si, uma
dramaturgia da presença: é o próprio acontecimento se inscrevendo no instante,
o qual produz uma narrativa mutante e singular a cada apresentação. Para
a concepção deste espetáculo, Clarissa inspirou-se em suas vivências
espirituais com os cultos de matriz africana, aprofundando com sua prática
artística e pesquisas filosóficas a relação sensível que perpassa seu corpo,
sem se prender a nenhuma abordagem religiosa. A presença ritualística da
performer, das sonoridades e das imagens, abre-se a uma variação de
ressonâncias que se conectam às forças humanizadas da natureza, os Orixás,
vibrando em seu corpo como uma multiplicidade de corpos intensivos ressonando
paisagens sonoras. Trata-se de uma experiência limite entre os
territórios da arte e do ritual, da vida e da morte, entre o mistério do
sagrado e os acontecimentos de superfície do cotidiano, postos em relação com o
desconhecido.
A
artista-pesquisadora realiza um trabalho de intersecções com as teorias da
contemporaneidade, criando, com este espetáculo, uma conexão inventiva entre
uma certa mitologia das ancestralidades, vivenciada através dos cultos
afro-brasileiros, e uma filosofia da natureza e da diferença, cujo encaixe de
noções por ela proposto, coloca o problema da expressão como sendo, também, o
que envolve, implica e exprime a Natureza naquilo que, nela, não é visível e
que se faz existir na duração de um tempo desmedido, fluindo em nós e vibrando
interiormente. Debruçada sobre esse mapa de conexões é que
Clarissa catalisará todo o processo de criação dramatúrgica, adentrando à
dimensão do sensível e do sensitivo para compartilhar com a plateia os mesmos
questionamentos que despertaram o desejo de concretizar esta obra. "O
espetáculo convida o público a viver um acontecimento, onde não se estará
lá para ouvir uma história, mas sim, provar de um puro vivido; na duração do
movimento das próprias forças da natureza que se fazem existir em cada um ali
presente", conta.
Desde a
criação do Teatro Desessência, em 1988, Clarissa Alcantara faz uso da
fotografia e do audiovisual como dispositivos para o processo de criação. Assim
ocorre também em Vida em Desborda, cuja produção audiovisual é assinada pela
videoartista Tereza Marinho, "Meu encontro com Tereza foi fundamental à
concretização desta experiência. Além de vídeoartista, Tereza é, também,
psicóloga. A extrema sensibilidade do seu olhar imagético alcança as
invisibilidades e as ressonâncias dessa realidade incorpórea que revela, para
além da imagem, o que da imagem toca ao espírito, a imagem-afetação",
explica Clarissa Alcantara. No espetáculo, são projetadas imagens em diferentes
superfícies, sobrepostas à presença da performer e às intervenções sonoras
executadas. A música é executada ao vivo por Celso Nascimento (tambor e instrumentos
de percussão) Naná Carneiro (voz, tambor, instrumentos de percussão e
sopro.) e Wellison Pimenta (percussão). A coordenação técnica e projeção
das imagens está a cargo de André Oliveira. A coordenação de produção é
assinada por Regina Ganz.
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SOBRE CLARISSA ALCANTARA ::
Clarissa
Alcantara nasceu em Pelotas/ Rio Grande do Sul. Foi em seu estado natal, em
1988, que ela iniciou suas pesquisas no que ainda chamava de "Teatro de
Essência", e criou a Cia Teatro Ousia, onde produziu o espetáculo
Mary Stuart, de Denise Stoklos, em Porto Alegre. Com o propósito de desenvolver
sua pesquisa sobre o conceito de "essência", fez a graduação em
Filosofia. Logo após, o teatro de essência tornou-se tema de seu mestrado. Foi
durante sua pesquisa de doutorado que surgiu a denominação Teatro Desessência,
pesquisa que continuou em outros dois pós-doutorados, sendo o último em
psicologia clínica, por onde investiga sua prática artística como clínica
esquizoanalítica.
Ao
longo de toda sua pesquisa teórica, Clarissa produziu diversos experimentos
artísticos, pondo em intersecção múltiplos conteúdos em diferentes modos de
expressão, circulando por diversos estados do Brasil, Uruguai, França e Suíça.
FICHA
TÉCNICA
Concepção,
direção e performance: Clarissa Alcantara
Dramaturgia:
Clarissa Alcantara e Tereza Marinho
Videoartista:
Tereza Marinho
Músicos
percussionistas: Celso Nascimento, Naná Carneiro, Wellison Pimenta (VIOLA)
Concepção
sonora: Celso Nascimento e Clarissa Alcantara
Coordenação
técnica: André Oliveira
Operação de
vídeo: André Oliveira
Figurino:
Ana Virgínia Guimarães Álvares
Produção:
Regina Ganz
:: SERVIÇO ::
VIDA EM DESBORDA
RITO I grito no abismo cartas para minha morta
RITO II nota pública: “para acabar com o juízo…”
MAP - Museu de Arte da Pampulha (auditório) -
Datas: Sexta a domingo, dia 30 de agosto às 19h e dias 31 de agosto e 1 de setembro
Horário: 19H (dia 30/08) e 18H (dias 31/08 e 01/09)
Duração aproximada: 80 minutos
Contato: (31)98373-2552
Classificação: livre
Entrada gratuita
RODA DE CONVERSA
Após as apresentações de sábado, haverá uma roda de conversa informal com o público que se interessar, para um diálogo sobre o processo de criação do trabalho.
REDES SOCIAIS
Instagram: https://www.instagram.com/vida_em_desborda/
Foto/crédito: Tereza Marinho - Legenda: Espetáculo Vida em Desborda
Fonte: Assessoria de
Imprensa
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