A Galeria Evandro Carneiro Arte, na
Gávea, realiza até o dia 20 de outubro a EXPOSIÇÃO FRANCISCO
COCULILO: A REPETIÇÃO E A REINVENÇÃO DA PAISAGEM CARIOCA. Filho de
europeus, mas carioca de nascença, o artista residiu boa parte de sua vida em
Niterói. Sua paixão pela Cidade Maravilhosa é observada em todo o acervo
exposto. Das 47 telas que serão exibidas, 43 retratam a Baía da Guanabara,
contempladas entre as décadas de 1930 a 1950, a partir da terra de Araribóia. A
curadoria é de Evandro Carneiro. Destacam-se as pinturas da Baía da
Guanabara com o Corcovado e o Pão de Açúcar ao fundo, bem como os crepúsculos
avermelhados sobre a topografia carioca.
A mostra foi aberta ao público SEM VERNISSAGE devido à pandemia, durante o horário de visitação da galeria, de segunda a sábado, das 10h às 19h.
O shopping Gávea Trade Center está funcionando com obrigatoriedade do uso de máscaras e fornece álcool em gel e medição de temperatura para quem entra. Não há necessidade de agendar a visita, pois o espaço é grande e sem aglomerações.
FRANCISCO COCULILO: A REPETIÇÃO E A
REINVENÇÃO DA PAISAGEM CARIOCA
Francisco Coculilo nasceu no Rio de
Janeiro em 13 de fevereiro de 1893. Filho de europeus, seus pais haviam chegado
ao Brasil com os primeiros imigrantes que aportaram aqui desde a proclamação da
República, quatro anos antes. Escolheu o Rio de Janeiro para residência fixa,
mas a Revolta da Armada, no fim daquele ano, fez com que o pequenino Francesco,
antes de completar um ano, se mudasse para o outro lado da baía. Junto com o
endereço, o artista mudou também seu nome: do original italiano Francesco Coculichi,
passou a ser conhecido como Francisco Coculilo.
Foi aluno do pintor catalão Luis Graner
Y Arrufi no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, quando o mesmo esteve
por aqui entre viagens à América do Sul, de 1927 a 1929. Granner teve em
Coculilo seu único pupilo brasileiro e ambos se dedicaram principalmente à
paisagem de valor iconográfico.
Adulto, o artista fixou residência em
Niterói, na Vila Pereira Carneiro 24, na Ponta da Areia, local que sempre foi
um dos principais pontos escolhidos por artistas plásticos. Sylvio Pinto,
Pancetti e Aluízio Valle foram apenas alguns dos nomes que eternizaram aquela
humilde vila de operários, mas que possui o charme peculiar de uma das vistas
mais bonitas do planeta.
Coculilo se notabilizou entre os anos
1930 e 50 por retratar a paisagem iconográfica do Rio de Janeiro, a partir
Niterói. É provável que ninguém tenha apreciado mais essa vista do que ele que
a pintou exaustivamente. A repetição paisagística na obra de Francisco Coculilo
é uma característica típica e parte de uma experiência sensorial com os
elementos da composição. Quando a percebemos quase obsessivamente em seus
quadros, nem sempre atentamos para o fato de que o pintor buscava uma equação
entre os elementos da pintura para descobrir o produto real diante de apenas
uma constante: a Baía de Guanabara. Estudando-a sob as diversas variações
luminosas, descobria as várias possibilidades que um mesmo espaço pode conter e
fornecer ao artista. Não a mesma paisagem, mas sempre uma outra perspectiva do
natural. Afinal, quando a natureza é transferida para um suporte, está sofrendo
uma transformação em sua essência. Na representação não há somente aquilo que o
pintor vê, mas coexiste nessa percepção uma interferência que transfere ao
objeto a transvaloração de si mesmo. Nesta intenção, o olhar do pintor se
renova e aperfeiçoa o que mira, limpando a topografia daquilo que julga ser
incorreções, tornando mais belo o cenário em que repousa.
Esta volta do olhar sobre os mesmos
motivos pode parecer monótona ao espectador viciado na velocidade moderna e
representa o retorno constante do pintor ao mesmo cenário em dias e horas
diferentes, tal qual a experiência monetiana com a catedral de Rouen. Coculilo
retrata uma paisagem onde o homem está apenas insinuado na pintura, através da
cidade que cintila à distância, dos pequenos barcos pousados como nuvens sobre
a superfície da baía. O artista soma ao conjunto de elementos observados uma
harmonia que insistia em buscar e, ao repeti-la continuadas vezes, é como se
integrasse a natureza a uma sinfonia que não cansa aos ouvidos, servindo de
música ambiente aos temas que desenvolve, completando a criação daquilo que ela
está destituída. Pretensão? Cabe ao espectador formar sua opinião. Verdadeiro?
Com a mais absoluta certeza.
Essa exposição contém uma pequena
amostra da produção desse surpreendente artista que olhou o Rio como poucos e o
pintou como ninguém. Desde as pinceladas criticáveis de Francisco no início dos
anos 1920, ao seu amadurecimento artístico, cujo ápice se deu em meados dos
anos 1940 e início dos 50, as suas paisagens juntavam no mesmo horizonte
elementos topográficos impossíveis de conviver em uma mesma vista.
Já maduro, Coculilo vendia suas telas em
frente ao Copacabana Palace, no auge da efervescência turística e do glamour
que o bairro representava para o imaginário mundial nos anos 1950. Graças a
isso, grande parte de sua obra correu o mundo pelas mãos de milhares de
turistas anônimos que visitaram a Cidade Maravilhosa no pós-guerra. Até hoje é
comum encontrar suas paisagens na Europa e nos Estados Unidos, tendo essa
origem algumas das peças dessa coleção.
O acervo exposto foi sendo adquirido
cuidadosamente desde o ano de 2005 e, ironicamente, o fator que mais chamou a
atenção para o início desse colecionismo não foi estético ou pictórico, mas sim
antropológico: o olhar curioso do artista quanto à recriação da paisagem, o
viés “cenográfico” de Coculilo que, assim como os cenários das produções
cinematográficas da era de ouro do cinema, criou uma realidade modificada e
aperfeiçoada em seus quadros, como um pano de fundo no qual nenhum detalhe que
possa diminuir a paisagem deve ser retratado, seus pontos fortes devem ser
exaltados e, quando necessário, modificados e acrescidos de um detalhe que
valorize a própria criação da natureza.
Hoje, quase 50 anos após sua morte, seu espaço entre os grandes paisagistas brasileiros está marcado, não como o melhor ou como o mais virtuoso, mas, com certeza, como um pintor que foi extremamente honesto com sua pintura, fiel à sua paleta e notoriamente sincero em suas pinceladas. Um pintor que amou o Rio e Niterói, e eternizou a Baia de Guanabara como poucos. Faleceu em 9 de julho de 1971, injustamente esquecido no Instituto de Pneumologia de Niterói, e essa exposição é uma das maneiras de lembrá-lo, apresentando 47 telas do pintor. Por Bruno Perpétuo.
Serviço: EXPOSIÇÃO FRANCISCO
COCULILO: A REPETIÇÃO E A REINVENÇÃO DA PAISAGEM CARIOCA
Galeria Evandro Carneiro Arte: Rua
Marquês de São Vicente, 124 (Shopping Gávea Trade Center). Salas 108 e 109.
De 26 de setembro a 20 de outubro de
2020.
Visitação: de segunda a sábado, das 10h
às 19h.
Telefone: (21) 2227.6894
Estacionamento no local.
Site: http://www.
Instagram: @galeriaevandrocarneiro
Fonte: Assessoria de Imprensa
Legenda: F. Coculilo. Baía da Guanabara com Corcovado. Óleo s/ tela, ass. sit. Rio inf. dir. 54 x 83 cm
Fonte: Assessoria de Imprensa
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