O virologista e chefe substituto do Laboratório de Vírus
Respiratório e Sarampo da Fiocruz, Fernando do Couto Motta, debateu durante o Foro Inteligência, o risco iminente da chegada
de novos supervírus. Ele alerta que os vírus deverão trazer cada vez mais
prejuízos, devido à modificação do ambiente - seja por meio do aquecimento
global, da derrubada de florestas, da abertura de estradas ou da domesticação
de animais silvestres. "Essas situações nos colocam em contato com novos
reservatórios de parasitas e forçam os vírus a se adaptar, com a busca de novos
hospedeiros como o ser humano", explica Couto Motta.
O pesquisador acrescenta que, "para completar a tragédia", a
população mundial se tornou extremamente numerosa e reunida em centros urbanos,
o que permite uma grande concentração de hospedeiros. "Nesses casos, a
evolução tende a favorecer vírus de ação rápida e devastadora. A realidade em
que vivemos automaticamente seleciona agentes mais virulentos", diz o
virologista. Ele acrescenta ainda que eliminar vírus é uma tarefa
extremamente difícil, porque até hoje não se sabe se eles de fato têm vida.
Couto Motta chama atenção para o perigo que a facilidade com que os
vírus mudam e trocam genes traz para a vida humana. Essa característica permite
que eles evoluam rápido e se multipliquem em diferentes grupos. "Ninguém
sabe dizer quantas doenças eles causam. O que se conhece são algumas maneiras
com que eles causam tanto estrago", reforça o pesquisador.
Ao contrário de bactérias, que possuem uma batelada de pequenos órgãos
para produzir energia, Couto Motta descreve os vírus como nada mais do que
"um conjunto de DNA e enzimas embrulhadas para presente em uma camada de
proteína". Um presente de grego, diz ele. "Para se replicar, ele precisa
invadir outros seres e se apropriar dos instrumentos de que eles dispõem. Os
vírus têm algumas características de seres vivos, como gerar descendentes, e
não têm outras, como uma existência autônoma", afirma o virologista.
De qualquer forma, os vírus reúnem uma enorme complexidade no minúsculo
espaço que ocupam. Milhares de vezes menores que uma bactéria, só podem ser
vistos com potentes microscópios eletrônicos. Não se sabe como surgiram. É
provável que sejam bactérias que perderam várias organelas e a capacidade de
viver por conta própria ou pedaços de células que se desprenderam. O fato é que
são antigos a ponto de terem interferido na evolução de quase todas as
espécies. Uma prova disso veio com o mapeamento do genoma humano, quando foram
encontradas sequencias genéticas de vírus escondidas no nosso DNA.
Como a SARS e o Covid-19 provaram, atualmente é muito fácil para um
parasita pegar um avião e aparecer em outro lugar do mundo. "Portanto, não
fique surpreso se outras grandes epidemias se alastrarem pelo mundo mais
vezes", observa o virologista.
A saída para lidar com o problema está nas vacinas. Para Couto Motta, o
programa nacional de vacinas do Brasil sempre foi um exemplo. "Somos um
dos poucos países produtores de vacinas. O Brasil sempre importou tecnologia
para adaptar e produzir a própria vacina, temos esse conhecimento",
finaliza.
Sobre o Foro Inteligência:
O Foro Inteligência reúne o BRICS Policy Center e a Insight, com o apoio
do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC-Rio e da Casa de Afonso
Arinos. Com a proposta de manter um canal aberto com países como China, Rússia,
Índia e África do Sul, visa apresentar palestras, cursos e seminários abordando
problemas brasileiros não convencionais e que tangenciam as nações do bloco.
O BRICS Policy Center fará a ponte com os países emergentes. Pela
primeira vez, assuntos brasileiros profundos, como as facções criminosas, a
questão das fronteiras do país, a ameaça dos supervírus e bactérias, gargalos
da industrialização da indústria brasileira, e verdades e mentiras sobre o
interesse do capital estrangeiro em investir no Brasil, serão acessados a
partir de um olhar convergente com o eixo dos demais países emergentes.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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