Ronald Lira de
Souza é conhecido há tempos pela sua performance ativista nos meios culturais
da Paraíba, mas aos poucos vem conquistando o Brasil com participações mais que
especiais nas telinhas e telonas, principalmente na sétima arte. Buda Lira,
como é carinhosamente chamado por todos, em 2017 ganhou o prêmio de melhor ator
no Festival Guarnicê de Cinema e este ano de 2019 foi novamente laureado como
melhor ator o longa-metragem “Lamparina da Aurora” (Direção Frederico Machado)
e com o curta-metragem “Rasga Mortalha” (Direção Patrícia Aquino). Com o curta “Rasga
Mortalha” ele ainda foi premiado em mais três festivais na Paraíba e de
Pernambuco.
Nesta entrevista exclusiva, concedida ao jornalista Joanildo Mendes, para
o FATOSPB, ele fala sobre a arte e a parte que lhe cabe no latifúndio cultural
paraibano. Sertanejo, técnico cultural da Universidade Federal da Paraíba,
produtor cultural, ator e participante ativo de movimentos culturais
paraibanos, Buda Lira nasceu em Uiraúna, passou por Cajazeiras e ainda na infância
fez morada em João Pessoa.
Ele diz que fazer cinema e televisão é como se ganhasse uma bicicleta
nova. Fala sobre as dificuldades de ser ator no Brasil e acredita que é
fundamental para os investimentos culturais uma maior aproximação entre cultura
e educação. “O Brasil, não custa nada repetir, é um país que carrega uma
história de desigualdades, de opressão muito grande”.
Buda Lira lamenta que projetos culturais que estavam dando certo estejam
sendo desmontados. “Todos os dias chegam notícias dramáticas de iniciativas de
desmonte daquilo que vinha dando certo e que deveria e poderia ser ajustado.
Mas, o que assistimos são atos de destruição puros e simplesmente”.
Ele também é presidente do bloco pré-carnavalesco mais irreverente da
Capital paraibana, o Cafuçu. Nessa entrevista ele fala sobre o que vem pela
frente. “No momento estamos acompanhando, por exemplo, a tramitação do Carnaval
do Cafuçu na Lei Rouanet. A expectativa é que possamos captar recursos, após a
sua aprovação, e aprimorar áreas que já conquistamos com a história do Bloco”.
Leia abaixo a entrevista com Buda Lira:
- Quem é Buda
Lira? De onde veio? Pra Onde Vai?
Um sertanejo, cidadão brasileiro, que pensa e atua para o bem! O bem das
pessoas, da cidade onde mora, o bem da Paraíba, enfim o bem da humanidade.
Nasci em Uiraúna-PB e aos seis anos, fui morar em Cajazeiras. Em 1972, vim
morar aqui em João Pessoa. Minha família, meus pais, tios avós quase todos os
meus irmãos têm como referência a cidade de Cajazeiras, onde a maioria nasceu e
viveu. E vou pra onde a vida naturalmente me levar.
- O Personagem interfere na vida do ator?
O personagem é parte de uma boa história que te ensinam sempre algo. Para
os artistas, mas principalmente para o público. Do contrário, acho até que nem
tem sentido da história existir.
- É mais fácil fazer rir ou fazer chorar nas artes cênicas?
É possível que alguém, ator, atriz ou uma pessoa qualquer tenha mais
preferência para uma ou outra forma de se expressar. No meu caso, os desafios
para uma ou outra opção são semelhantes. Depende muito do conceito e método do
trabalho, características de equipe e sua direção.
- Quantos prêmios você já ganhou e qual o mais importante?
No teatro, quase não participei de eventos competitivos. E quando
participei, raramente, o espetáculo é que foi escolhido. No cinema, tive a
oportunidade de ganhar alguns poucos prêmios, até porque foi recentemente que
comecei a trabalhar. Destaco os prêmios de ator no Festival Guarnicê de Cinema,
em 2017 e este ano respectivamente com o longa-metragem “Lamparina da Aurora”
(Direção Frederico Machado) e o curta-metragem “Rasga Mortalha” (Direção
Patrícia Aquino). Com o Rasga Mortalha, ainda fui premiado em mais três
festivais na Paraíba e Pernambuco.
- O que você prefere? Cinema, teatro ou televisão? Por quê?
Cinema e televisão. É como se eu ganhasse uma bicicleta nova. A vontade de
fazer no momento é mais forte. Mas, tirando esse detalhe, não saberia dizer a
preferência quando penso mais sobre as experiências que tive em trabalhar nas
três áreas. Gosto imensamente de atuar, isso é o mais importante. Cada qual tem
suas particularidades, os sabores e dissabores como as coisas da vida. Desde
2016, por exemplo, não tenho atuado no Teatro. Acho que ta na hora de pensar em
algo para produzir.
- É difícil ser artista na Paraíba e no Brasil?
Não somente para o artista. Dificuldades existem para o povo brasileiro
que não tem oportunidades, que precisa ralar muito. Nunca foi fácil para quem
já nasce com limitações econômicas e sociais. O Brasil, não custa nada repetir,
é um país que carrega uma história de desigualdades, de opressão muito grande.
O artista, o trabalhador, a trabalhadora que vem de origem popular certamente
enfrenta maiores dificuldades. Nesse momento, atravessamos um período de muitas
dificuldades. Todos os dias chegam notícias dramáticas de iniciativas de
desmonte daquilo que vinha dando certo e que deveria e poderia ser ajustado. Mas,
o que assistimos são atos de destruição puros e simplesmente.
- O que falta para que os governos invistam mais em cultura?
Tivemos um impulso muito grande na área governamental a partir da atuação
exemplar do Governo Federal com o trabalho grandioso dos Ministros Gilberto Gil
e Juca Ferreira (leia-se Governo Lula). As Políticas Públicas tiveram
repercussão nos Governos Estaduais e Municipais, em grande parte, com a criação
de Secretarias, Fundações, etc. Acredito que é fundamental para os investimentos
uma maior aproximação entre a cultura e a educação, no sentido profundo dessas
áreas. Pensar que a educação e a cultura podem inserir milhares de pessoas,
gerar oportunidades de crescimento pessoal e social e contribuir para
desenvolver sensibilidades, conhecimentos, visão crítica, enfim, apostar no ser
humano e no processo civilizatório, tão necessário nos dias de hoje.
- Os políticos atrapalham ou ajudam o desenvolvimento cultural?
Podem ajudar e muito. Refiro-me aos políticos que exercem mandatos, mas
também o cidadão que atua na área cultural e que precisa atuar no campo
político, ocupando espaços, trabalhando para que a Política Cultural seja forte
na sua cidade, no seu estado.
- Entre o carnaval e forró, o que há de melhor?
Duas grandes festas, que precisam de re-ligação com o sentido de uma festa
comunitária. Gosto imensamente das duas. Fui criado em Cajazeiras, vendo e
fazendo modestamente as duas celebrações.
- Como presidente do Bloco Cafuçu, o que vem de novidades para 2020?
Já estamos
trabalhando no projeto. No momento estamos acompanhando, por exemplo, a
tramitação do Carnaval do Cafuçu na Lei Rouanet. A expectativa é que possamos
captar recursos, após a sua aprovação, e aprimorar áreas que já conquistamos
com a história do Bloco Cafuçu. Mais orquestras para o desfile, estruturar
bandas locais que comportem participações especiais de cantores e cantoras. O
foco é aprimorar a área de gestão do desfile e do tradicional baile a atender
da melhor forma possível os Cafuçus e Cafucetas que adoram o bloco.
Foto:
Reprodução/divulgação
FONTE: Redação Portal Fatospb
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