“De onde vem sua força e como você está projetando ela em
sua caminhada?”. A pergunta é uma das provocantes reflexões que o artista fluminense Thiago
Elniño propõe em Correnteza, seu terceiro
álbum de estúdio (ouça aqui). O disco,
palco de raps feitos “sob influência ancestral e de forma artesanal no
cuidado com as palavras” e que poetizam a vontade e a necessidade de vislumbrar
realidades mais esperançosas frente ao cenário que o país atravessa atualmente,
chega acompanhado pelo videoclipe de "Dia de Saída" –
single que conta com participação do talentoso músico pernambucano Zé Manoel, e
apresenta boa parte de todo o caldeirão de elementos e referências do disco,
tanto em pauta quanto em sonoridade (assista aqui).
Thiago revela que após o forte Pedras, Flechas,
Lanças, Espadas e Espelhos (2019), que contou com participações de
Luedji Luna, Rincon Sapiência e Tássia Reis, ele queria fazer um álbum mais
afetuoso e mais reconfortante, mas diante da caótica realidade, só isso não
bastaria. Uma das inspirações do artista para delinear o trabalho foi o
provérbio africano “a água sempre encontra seu caminho". “Esse é um
momento onde temos poucas perspectivas enquanto humanidade. Ainda assim, você
tem que entender que as coisas podem dar errado dando certo, ou dando o menos
errado possível, e a única opção que a gente tem é seguir em frente tentando
estar o melhor que pudermos", diz o artista e pedagogo que vê o movimento
das águas como símbolo de força e perseverança. “Nesse momento, precisamos ser
correnteza", afirma.
O álbum chega permeado por referências, como o afrobeat
de Fela Kuti, o samba e a música de terreiro. “Fela Kuti é meu maior ídolo na
música. Em Correnteza, acredito que, enfim, essa influência
se mostrou de forma mais direta na sonoridade", comenta Thiago Elniño.
"O samba e a música de terreiro também estão completamente presentes no
meu trabalho”, conta sobre as referências da obra vista por ele como mais um
passo para aprofundar a afro-brasilidade que suas músicas carregam e afastar
estereótipos de que o rap seja nacional seja só “um derivado do que é feito nos
Estados Unidos”.
“Bodoque” é a faixa que abre o disco trazendo um evidente
afrobeat que fala de afeto e fé, "mas sem ignorar o contexto de guerra
contra um inimigo que nos odeia". A fé da primeira abre alas para a
potência de “Baque” – um diálogo entre rap, samba e afrobeat que traz o cantor,
compositor e percussionista fluminense Mingo Silva como convidado. É aqui que
Elniño escolheu reafirmar que durante o disco vão encontrar algo que envolve amor
pelos pretos e disposição para lutar. “Meu rap é uma sessão de pretoterapia”,
define em um dos versos.
Já em “Dia de Saída”, parceria com Zé Manoel, o rapper representa uma conjuntura maior de como o mundo vê a população negra, o homem negro e a sua cultura, além de cravar a confiança de que dias menos doloridos estão por vir. “Quando a gente sair daqui, eu não quero ter que lembrar dos dias que lágrimas regaram dores que o tempo não vai conseguir apagar”, canta ressoando que o sentimento de alívio está sim a caminho. O afeto dá continuidade à tracklist com “Dengo”, faixa que também traz Zé Manoel, agora para uma ode aos casais negros e às famílias afro centradas que evidencia a magnitude da união e do carinho em um cenário em que o etnocídio segue sendo uma realidade. “A forma que a gente constrói nossas alianças é determinante para a continuidade da nossa existência enquanto povo”, declara.
Mais que ponto de encontro entre a população preta
presente aqui e agora, a música de Thiago Elniño ainda se faz ponte para uma
conexão com sua ancestralidade. Em “Correnteza Interlúdio I”, onde a voz da
cantora e escritora Daiana Damião ilustra a poesia que condensa o conceito do
disco, ele relembra que “para que você chegasse até aqui, muita água já rolou.
Muita gente teve que ser correnteza”. Já em “Vampiros Veganos”, junto com a
artista e historiadora pernambucana Luciane Dom, ele traça caminhos regados à
inquietações para repensar a luta antirracista e assim garantir a continuidade
da existência de pessoas pretas. “Precisamos ter a atenção necessária para não
cair em armadilhas, como a falsa representatividade e alianças enganosas”,
pontua.
O resgate do passado também é um dos elementos em
“AfroSamuraiGuerreiroNinja (O Retorno)”, mas de outra forma: aqui, Thiago
revisita a própria obra e traz uma nova versão de uma de suas músicas de maior
alcance. “Eu não gosto de fazer rap que tem como temática o próprio rap, mas,
nesse caso, pela conjuntura que foi escrita e pelo cenário de hoje, coube”,
diz. Na faixa seguinte, “Hoje Não!”, o artista ainda resgata a parceria com o
amigo e rapper carioca Sant, colaboração que sucede o encontro eternizado no
hit “Pedagoginga”, lançado no álbum A Rotina do Pombo (2017).
“Aqui, mais uma vez, a sonoridade afrobeat fica em primeiro plano, à medida que
eu quis remeter aos bailes de Fela Kuti, em Kalakuta”, revela sobre a canção de
versos que misturam reflexão e “momentos tirando uma certa onda”.
Em “Como Nascem os Sambas”, nona faixa de Correnteza,
o rapper repete a parceria com Mingo para apresentar o auge da experimentação
sonora que construiu no disco, por meio de um samba que faz um apanhado de
todos os temas abordados para exaltar como nascem coisas bonitas criadas mesmo
que sob um sentimento de dor. A beleza mencionada na música, inclusive, toma
conta dos versos da última canção do disco, “Odú (Caminho)”. Acompanhado pelo
cantor Caio Prado, Thiago introduz a expressão em Yorubá, que significa “o
caminho que cada um de nós tem”. Conduzido por um afrobeat moderno, como forma de
saudar os formatos mais tradicionais do ritmo, o artista encerra Corretenza mostrando
que sua poesia não é fim, mas sim ponto de partida para novos caminhos.
Ficha Técnica do Álbum:
Direção Artística: Thiago Elniño
Produzido e Mixado por: Martché
Masterizado: Jorge Luís Almeida
Identidade Visual: Guilherme Kozlowski
Escultura da capa: Malungo
Ficha Técnica do Clipe:
Roteiro: Thiago Elniño, Carola Ribeiro, Rhay Salina e
Hélio Loro
Produção Executiva e Direção de Produção: Carola
Ribeiro
Assistente de Produção: Hélio Loro
Direção Criativa: Philippe Rios
1ª Assistente de Direção: Barbara Fuentes
2ª Assistente de Direção: Rhay Salina
Direção de Fotografia: Luis Gomes
1ª Assistente de Câmera: Daniel Santos
2ª Assistente de Câmera: Natália Pires
2ª Assistente de Câmera/Logger: Pablo Nascimento
Gaffer/Contrarregra: David Nascimento (Cabelinho)
Técnico de Luz: Jonas Soares
Técnico de Som: Felipe Natal
Direção de Arte: Carol Aguiar
1ª Assistente de Arte: Lelahel Albuquerque
2ª Assistente de Arte: Patrícia Fuentes
Cabelo e Maquiagem: Sandra Helena
Making Off: Ricardo Canário
Still: Jorge Badauê e Rhay Salina
Edição e finalização: Hélio Loro
Color Grading: Rhay
Salina
Designer: Guilherme Kozlowski
Elenco:
Lucas Dain
Jaine Venancino
Dami Araujo
Ícaro Amado
Murilo Miranda
Allan Bastos
Apoio: Centro da Música Carioca Artur da Távola
Assista ao videoclipe de
“Dia de saída”
Fonte: Assessoria de Imprensa
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