Em “Para não dizer que não falei das flores”, Marcos Roberto transforma o ferro e a ferrugem em matéria de resistência. Ex-metalúrgico, o artista recolhe restos industriais, fragmentos de portões, ferramentas e cercas — resíduos de um país moldado pela extração e pela desigualdade — e os faz brotar novamente, convertendo o aço em seiva. Suas esculturas e instalações nascem da fricção entre trabalho, terra e memória, operando uma inversão poética: o gesto que antes sustentava a máquina agora cultiva a vida.
A exposição reflete sobre o corpo operário como campo de batalha da modernidade — o corpo que sustenta, carrega e é corroído pela lógica da produção. Nas obras de Marcos, esse corpo retorna à cena não como instrumento, mas como força criadora. O ferro que sangra também germina; o facão, símbolo de corte e luta, se quebra em folhas e raízes. O artista propõe uma pedagogia silenciosa, onde o gesto de soldar e torcer o metal se torna modo de reescrever o tempo e o território.
As obras tensionam as relações entre progresso e violência, denunciando as permanências coloniais que seguem estruturando o país. Suas obras evocam a herança do cativeiro, o ciclo do trabalho e a terra transformada em negócio, revelando que a promessa de modernidade ainda repousa sobre bases desiguais.
Entre o ferro e a flor, o gesto de Marcos Roberto é tanto denúncia quanto esperança. Sua prática é uma pedagogia do cuidado, onde o trabalho manual reaproxima o humano da matéria e devolve à arte a capacidade de imaginar futuro.
Sobre o Artista
Marcos Roberto é um artista visual autodidata e operário de Bauru, São Paulo. Sua prática artística explora a materialidade industrial, utilizando metal e outros materiais como base para suas pinturas. O contraste entre a superfície rígida e fria do metal e as cores vibrantes e formas aplicadas por ele cria uma tensão dinâmica, que reflete a dualidade entre a solidez dos materiais e a fluidez de sua expressão artística.
Inspirado por sua experiência como operário, Marcos aborda em seu trabalho questões de violência, desigualdade e a mercantilização da vida cotidiana. Suas obras retratam as histórias dos trabalhadores e o impacto do sistema econômico sobre suas vidas. Além disso, ele explora a desumanização do trabalho e a exploração da classe trabalhadora, ressaltando a importância do conhecimento da história para questionar e desafiar essas estruturas. Suas criações funcionam como um ato de resistência, promovendo conscientização e a necessidade de mudanças sociais.
Em 2013, Marcos largou o trabalho em Bauru e mudou-se para São Paulo para estudar Artes Visuais, mas retornou ao interior em 2017 após uma enchente ter alagado sua casa. Entre 2018 e 2020, trabalhou em uma fábrica de placas de trânsito, onde encontrou sua primeira matéria-prima para pintar. Desde então, ele se dedica integralmente à arte, utilizando materiais industriais como o metal para explorar temas sociais e políticos
Sobre
Projeto Alumiar
Criado pela Galeria Lume, o projeto Alumiar tem como propósito ampliar o alcance de práticas artísticas comprometidas com transformação social, diversidade e escuta. A iniciativa propõe diálogos entre artistas e curadores convidados, com atenção especial a trajetórias que emergem de contextos coletivos, pedagógicos e experimentais, expandindo o espaço da arte para além da galeria.
Galeria Lume
A Galeria Lume foi fundada em 2011 com a proposta de fomentar o desenvolvimento de processos criativos contemporâneos ao lado de seus artistas e curadores convidados. Dirigida por Paulo Kassab Jr. e Victoria Zuffo, a Lume se dedica a romper fronteiras entre diferentes disciplinas e linguagens, através de um modelo único e audacioso que reforça o papel de São Paulo como um hub cultural e cidade em franca efervescência criativa.
A galeria representa um seleto grupo de artistas estabelecidos e emergentes, dedicada à introdução da arte em todas as suas mídias, voltados para a audiência nacional e internacional, através de um programa de exposições plural e associado a ideias que inspiram e impulsionam a discussão do espírito de época.
Serviço
“Para não dizer que não falei das flores”
Individual de Marcos Roberto
Abertura: 23 de outubro de 2025, quinta-feira
Local: Galeria Lume — Projeto Alumiar
Horário de visitação: Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 15h
Endereço: Rua Gumercindo Saraiva, 54 – Jardim Europa, São Paulo – SP
Foto/crédito: Felipe Brendt - Legenda: DANINHA (detalhe), 2025 - Marcos Roberto
Fonte: Assessoria de Imprensa
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