A floresta é um lugar real e, ao mesmo tempo, uma ideia. No Brasil, ela nunca foi apenas bioma: tornou-se signo, mito fundante, projeção de um país que se pensa tropical mesmo quando já se afastou da própria natureza. Olhar a Floresta, Ver a Floresta parte desse deslocamento — entre a experiência sensível e a imagem fabricada — para reunir cerca de 40 trabalhos de 25 artistas, históricos e contemporâneos, por vezes exibidos justapostos em elipses de tempo, em um arco que vai do século XIX aos dias de hoje.
A curadoria de Ivo Mesquita organiza a exposição em três movimentos discretos, mas contínuos. O primeiro corresponde à chegada dos viajantes-naturalistas europeus ao Brasil, quando a pintura e o desenho registram a floresta como território sublime, exuberante, quase impenetrável. Obras de Nicolau Facchinetti, Henri Nicolas Vinet, e Friedrich Hagedorn apresentam esse olhar inaugural, ligado às expedições científicas que buscavam catalogar um mundo desconhecido — mas que, paradoxalmente, começavam a domesticá-lo pela própria representação. Também dentro deste segmento estão os contemporâneos Sebastião Salgado e Lucas Arruda, que operam na tradição deste imaginário.
O segundo eixo revela o momento em que essa natureza, antes monumental, passa a ser convertida em paisagem produtiva. Fazendas, queimadas, extração, urbanizações, cercas, hortos, jardins: a floresta é absorvida pelo cotidiano. O gesto de domesticação se completa quando a mata se reduz à escala da casa — o vaso de planta, o arranjo floral, a imagem do verde. Nessa passagem, o que era território torna-se ornamento. Neste grupo estão trabalhos de Georg Grimm, Eliseu Visconti, Miguel Bakun, Portinari, Pedro Paulo Leal, Helio Melo, Ozias e fotos de Augusto Malta, Lalo de Almeida e Luiz Braga.
No núcleo contemporâneo, a floresta já não é apenas registrada, mas repensada. Esculturas, pinturas, fotografias e uma instalação inédita de Ana Luísa Dias Batista tensionam esse imaginário. Trabalhos de Frans Krajcberg, Marilá Dardot, Elaine Pessoa, Leda Catunda, Rochele Costi, Fernando Limberger Gabriela Albergaria, Alejandro Lloret, Detanico&Lain, colocam a natureza como experiência simbólica, onde a linguagem é atravessada por tecnologias, memória, devastação e ficção. Das imagens de inteligência artificial às fotografias de queimadas, o verde deixa de ser pano de fundo e se torna campo político — mesmo quando a exposição não busca uma narrativa ambientalista explícita.
Olhar a floresta, ver a floresta não formula diagnósticos. Para Ivo Mesquita, propõe outra coisa, mais rara em tempos acelerados: um intervalo de silêncio. Um espaço de contemplação em que o visitante possa suspender o fluxo das urgências e se perguntar, simplesmente, como olhar. Porque olhar a floresta talvez seja, hoje, reaprender a ver o mundo.
Artistas Participantes (25):
Alejandro Lloret (1957)
Ana Luísa Dias Batista (1978)
Augusto Malta (1864-1957)
Detanico & Lain (Angela Detanico, 1974; Gabriel Lain, 1973)
Elaine Pessoa (1968)
Eliseu Visconti (1866-1944)
Fernando Limberger (1962)
Frans Krajcberg (1921-2017)
Friedrich Hagedorn (1814-1889)
Gabriela Albergaria (1965)
Georg Grimm (1846-1887)
Helio Melo (1926-2001)
Henry Nicolas Vinet (1817-1876)
Lalo de Almeida (1970)
Leda Catunda (1961)
Lucas Arruda (1983)
Luís Braga (1956)
Marilá Dardot (1973)
Miguel Bakun (1909-1963)
Nicola Facchinetti (1824-1900)
Odoteres Ricardo de Ozias (1940-2011)
Paulo Pedro Leal (1894-1968)
Rochele Costi (1961-2022)
Sebastião Salgado (1944-2025)
Serviço
Exposição: Olhar a Floresta, Ver a Floresta
Curadoria: Ivo Mesquita
Abertura: 18 de novembro, terça-feira, das 18h às 21h Danielian
Permanência: Até 07 de fevereiro de 2026
Horários: terça a sexta das 11h às 19h, sábado das 11h às 17h
Danielian SP - Local: Rua Estados Unidos, 2114 — Jardim Paulista, São Paulo
Fonte/Imagem-divulgação: Assessoria de Imprensa

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