Após
o golpe militar de 1964, os recursos diplomáticos foram mobilizados com a
finalidade de assegurar a legitimidade do novo regime e, durante muito tempo,
prevaleceu a versão de que a diplomacia brasileira não se envolveu nas
arbitrariedades da ditadura. Em 2011, no entanto, a Lei de Acesso à Informação
possibilitou o acesso aos acervos documentais da época e o mundo secreto do
Itamaraty estava então desprotegido. O historiador Paulo César Gomes, que atuou
como pesquisador na Comissão da Verdade, debruçou-se sobre esse material e
cruzou com informações do próprio governo francês. O resultado está no livro
“Liberdade vigiada”, que a Editora Record acaba de lançar.
O
livro examina de que forma as práticas repressivas que caracterizaram esse
período da história brasileira, bem como as denúncias de tais práticas no
exterior, influenciaram as relações entre os dois países. Em entrevista ao blog
da Editora Record, Paulo conta que embora o governo francês tivesse plena
consciência das ações arbitrárias que vinham sendo cometidas pela ditadura,
amplamente veiculadas pelos principais jornais franceses, nunca se pronunciou
publicamente sobre o tema. Todas as conversas eram mantidas no âmbito das
correspondências sigilosas, que só recentemente vieram a público com a
liberação dos documentos secretos.
“É
possível afirmar que os dois grandes eixos da colaboração franco-brasileira
durante a ditadura eram reforçar a cooperação comercial, e atuar conjuntamente
para que as denúncias feitas por exilados brasileiros na França e, também, por
religiosos, com destaque para dom Hélder Câmara, não afetassem negativamente as
relações bilaterais. De início, o governo francês chegou a fazer críticas, no
âmbito interno, à ruptura institucional que ocorreu no Brasil. Seja como for,
logo depois das eleições indiretas que levaram Castelo Branco à Presidência da
República, o governo francês reconheceu oficialmente o novo regime”, completa.
O autor lembra ainda que a visita oficial do presidente francês Charles De
Gaulle ao Brasil, no segundo semestre de 1964, foi a primeira de um chefe de
Estado de uma grande potência após o golpe.
“Liberdade
vigiada” percorre
as relações franco-brasileiras do início da ditadura até a Anistia e
mostra como só na década de 80, no governo de François Mitterand, começaram a
aparecer documentos chamando atenção para as violações aos direitos humanos.
Antes mesmo de ser presidente, Miterrand, como parlamentar, já havia alertado
para as violações praticadas no Chile.
Paulo
César Gomes nasceu em Brasília, é historiador
e doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi
professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e é autor de vários artigos
acadêmicos. Em 2014, publicou pela Editora Record o livro Os bispos católicos e
a ditadura militar brasileira: a visão da espionagem. É criador e editor do
site de divulgação científica História da Ditadura: www.historiadaditadura.com.br
Serviço
LIBERDADE VIGIADA
Paulo César Gomes
Paulo César Gomes
560 páginas | R$ 74,90
Editora Record | Grupo Editorial Record
Fonte: Assessoria de Imprensa
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