STUDIO OM.ART ABRE EXPOSIÇÃO INÉDITA DE LYGIA CLARK NO RIO DE JANEIRO


Pintora, escultora e “não artista”. Era assim que Lygia Clark se intitulava. A vida e o pensamento de um dos maiores nomes da arte brasileira serão celebrados a partir de hoje, dia 18 de setembro, com a exposição “Respire Comigo - Lygia Clark”, no studio OM.art, no Rio de Janeiro. A exposição é aberta ao público e gratuita.

Com idealização de Ale Clark e Carolyna Aguiar e apoio curatorial de Felipe Scovino, a mostra proporcionará a reflexão, através de seus escritos, diários e objetos sensoriais. Tudo levará o espectador a compreender o que motivou Lygia Clark a tirar seus trabalhos da parede e pensá-los em direção ao corpo do outro.

A exposição traz para a cidade um grande marco: abrir o centenário de Lygia Clark. A exposição no studio OM.art terá o lançamento do Selo Comemorativo / Centenário Lygia Clark e a apresentação do calendário de atividades do centenário no mundo, com exposições individuais em 2020 no Guggenheim Bilbao em março, Arco Lisboa em maio e no Peggy Guggenheim Collection – Veneza, em julho. O selo foi criado e assinado por Oskar Metsavaht a convite da Associação Cultural “O Mundo de Lygia Clark”.

“Com a comemoração do centenário de Lygia Clark trazemos para o studio mais um grande nome da arte brasileira dialogando com a vocação do espaço para a cocriação, a troca e a interação com o espectador. Esse desenho curatorial está presente desde que abrimos o espaço com “Hélio Oiticica: Rhodislandia”. A exposição “Respire Comigo” apresentará algo ainda mais potente que suas obras e sua contribuição ao movimento Neoconcreto; o pensamento de Lygia, reiterando assim o conceito de que o suporte da obra de arte é o próprio corpo. Diários escritos por ela estarão expostos e ganham vida em forma de encenação”, diz Oskar Metsavaht.

“Após tanto tempo apresentando o trabalho da minha avó, percebi que o mais importante era muito pouco visto: Lygia a partir da visão de si mesma. Seus diários refletem seus anseios, angústias que se transformavam em obra, e essas nada mais são do que o reflexo dela própria.”, explica Ale Clark.

“A busca pelo espaço foi tão importante quanto todas as reflexões conceituais dessa mostra. O Studio OM.art foi o encontro perfeito, porque buscávamos um espaço expositivo de pensamentos e reflexões, sem criar expectativas de um espaço expositivo convencional como museus e galerias, mantendo a proposta de Lygia iniciada com os Bichos, como ela própria dizia", acrescenta Ale Clark.

Respire Comigo – Lygia Clark” - por Felipe Scovino

“A exposição ‘Respire Comigo, Lygia Clark’ deriva de um monólogo, de uma encenação que por sua vez, é derivada da obra de Lygia, seus diários e pensamentos. Temos então uma situação dual, uma coisa está diretamente conectada a outra. O diferente da exposição é ter incorporado ao espaço expositivo o cenário da encenação. As réplicas que estarão expostas no Studio OM.art eventualmente fazem parte do cenário do monólogo, mas ao menos tempo ajudam a contextualizar a obra, o trabalho de Lygia Clark.

Boa parte das obras se refere a proposições realizadas pela Lygia nos anos 60, quando ela morava e trabalhava em Paris. Ela foi uma mulher a frente do seu tempo, chegou em Paris por volta de 68 com uma bolsa na Sorbonne e logo depois foi convidada para lecionar na universidade e por lá permaneceu por 8 anos. Foi lá que ela sedimentou seu trabalho ligado ao corpo e as práticas sensoriais. E é esse momento da Lygia que trazemos para o seu centenário. O momento em que ela aproximou sua obra do corpo do outro. Vamos focar muito nos seus pensamentos.

Lygia já foi uma artista muito importante no Brasil e na America Latina, já havia participado na bienal de Veneza, foi um das precursoras do neoconcretismo, ao lado do Hélio Oiticica, de uma importante geração de artistas dos anos 50 que vai fundamentar a ideia do contemporâneo nas artes brasileiras. Nada mais digno do que realizar uma exposição baseada em seu modo de trabalho e em seus pensamentos perante a vida, a arte e a obra nesse centenário.”

Sobre:

Lygia Clark

Lygia Clark (Belo Horizonte, 1920 – Rio de Janeiro, 1988) inicia seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, sob a orientação de Roberto Burle Marx e Zélia Salgado. Em 1950, Clark viaja a Paris, onde estuda com Arpad Szènes, Dobrinsky e Fernand Léger. Nesse período, a artista dedica-se à realização de estudos e óleos tendo escadas e desenhos de seus filhos como temas. Após sua primeira exposição individual, no Institut Endoplastique, em Paris, no ano de 1952, a artista retorna ao Rio de Janeiro e expõe no Ministério da Educação e Cultura.

Lygia Clark é uma das fundadoras do Grupo Frente, em 1954: dedicando-se ao estudo do espaço e da materialidade do ritmo, ela se une a Décio Vieira, Rubem Ludolf, Abraham Palatnik, João José da Costa, entre outros, e apresenta as suas “Superfícies Moduladas, 1955-57” e “Planos em Superfície Modulada, 1957-58”.

Em 1959, integra a I Exposição de Arte Neoconcreta, assinando o Manifesto Neoconcreto, ao lado de Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis. Clark propõe com a sua obra, que a pintura não se sustenta mais em seu suporte tradicional. Procura novos vôos.

Em 1960, Lygia cria a série “Bichos”: esculturas, feitas em alumínio, possuidoras de dobradiças, que promovem a articulação das diferentes partes que compõem o seu “corpo”. Com esta série, Clark torna-se uma das pioneiras na arte participativa mundial. Em 1961, ganha o prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de São Paulo, com os “Bichos”.

Lygia Clark deixa de lado a matéria dura (a madeira), passa pelo metal flexível dos “Bichos” e chega à borracha na “Obra Mole, 1964”. A transferência de poder, do artista para o propositor, tem um novo estágio em “Caminhando, 1964”. Cortar a fita significava, além da questão da “poética da transferência”, desligar-se da tradição da arte concreta, já que a “Unidade Tripartida, 1948-49”, de Max Bill, ícone da herança construtivista no Brasil, era constituída simbolicamente por uma fita de Moebius. Esta fita distorcida na “Obra Mole” agora é recortada no “Caminhando”.

A trajetória de Lygia Clark faz dela uma artista atemporal e sem um lugar muito bem definido dentro da História da Arte. Tanto ela quanto sua obra fogem de categorias ou situações em que podemos facilmente embalar; Lygia estabelece um vínculo com a vida, e podemos observar este novo estado nos seus "Objetos Sensoriais, 1966-1968”: a proposta de utilizar objetos do nosso cotidiano (água, conchas, borracha, sementes), já aponta no trabalho de Lygia, por exemplo, para uma intenção de desvincular o lugar do espectador dentro da instituição de Arte, e aproximá-lo de um estado, onde o mundo se molda, passa a ser constante transformação.

Em 1968 apresenta, pela primeira vez, no MAM-RJ, "A Casa é o Corpo", uma instalação de oito metros, que permite a passagem das pessoas por seu interior, para que elas tenham a sensação de penetração, ovulação, germinação e expulsão do ser vivo. Nesse mesmo ano, Lygia muda-se para Paris. O corpo dessexualizado é apresentado na série “Roupa-Corpo-Roupa: O Eu e o Tu, 1967”.

Em 1972, é convidada a ministrar um curso sobre comunicação gestual na Sorbonne. Suas aulas eram verdadeiras experiências coletivas apoiadas na manipulação dos sentidos, transformando estes jovens em objetos de suas próprias sensações. São dessa época as proposições “Arquiteturas Biológicas, 1969", “Rede de Elástico, 1974", “Baba Antropofágica, 1973" e “Relaxação, 1974". Tratam de integrar arte e vida, incorporando a criatividade do outro e dando ao propositor o suporte para que se exprima.

Em 1976, Lygia Clark volta definitivamente ao Rio de Janeiro. Abandona, então, as experiências com grupos e inicia uma nova fase com fins terapêuticos, com uma abordagem individual para cada pessoa, usando os “Objetos Relacionais": na dualidade destes objetos (leves/pesados, moles/duros, cheios/vazios), Lygia trabalha o “arquivo de memórias” dos seus pacientes, os seus medos e fragilidades, através do sensorial.

Em 1981, Lygia diminui paulatinamente o ritmo de suas atividades. Em 1983 é publicado, numa edição limitada de 24 exemplares, o “Livro Obra", uma verdadeira obra aberta que acompanha, por meio de textos escritos pela própria artista e de estruturas manipuláveis, a trajetória da obra de Lygia desde as suas primeiras criações até o final de sua fase neoconcreta. Em 1986, realiza-se, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, o IX Salão de Artes Plásticas, com uma sala especial dedicada a Hélio Oiticica e Lygia Clark. A exposição constitui a única grande retrospectiva dedicada a Lygia Clark ainda em atividade artística. Em abril de 1988, Lygia Clark falece.

Studio OM.art

O studio OM.art, idealizado por Oskar Metsavaht, reúne seu ateliê de artes plásticas, um espaço expositivo e o studio para desenvolvimento e produção de projetos de arte. A proposta do espaço é promover a difusão de ideias criativas e o pensamento crítico através da arte, em suas mais diversas formas, técnicas e linguagens: exposições individuais ou coletivas, instalações, eventos, apresentações, performances, talks, residências e interações. Abriga conteúdos de reflexão contemporânea sobre arte, ciência e filosofia, por meio do olhar de curadores, artistas e de intelectuais convidados. Sua sede fica no cluster de arte Vila Portugal, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro.

A inauguração do studio OM.art em maio de 2018, foi marcada com a exposição Hélio Oiticica:rhodislandia, considerada uma das 10 melhores exposições do ano na cidade, segundo a crítica. Em seguida apresentou a coletiva Dialética, que reuniu obras de 15 dos maiores artistas brasileiros e o Projeto LABOR, residência artística e exposição de Carlos Vergara e o francês David Ancelin juntamente com outros artistas convidados. A última exposição em cartaz foi Experienza Live Cinema #4, dos artistas Raul Mourão e Cabelo. www.om.art.br

Serviço:

Exposição: ‘Respire Comigo - Lygia Clark’

Período: 18 de setembro a 27 de outubro de 2019

Horários: De quarta a sexta, das 14h às 19h/ sábado e domingo de 11h às 18h

Endereço: Rua Jardim Botânico, 997 - Rio de Janeiro, RJ

Tel.: 21 2239-9019

Email: studio@om.art.br

Crédito: cortesia Associação Cultural “O Mundo de Lygia Clark” RJ - Foto de Sergio Zalis

Fonte: Assessoria de Imprensa

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