Cásper Líbero, jornalista que fez escola é mais do que
uma biografia de um importante e controverso
protagonista da
imprensa e da história brasileira. É um retrato
do cenário político, econômico e cultural do país nas
primeiras cinco décadas do século 20 que ajuda a entender os
conturbados dias atuais. A obra do jornalista Dácio
Nitrini, foi lançada pela
editora Terceiro Nome, em formato impresso e digital.
O autor
realizou pesquisas em antigas publicações na Biblioteca
Nacional, no Arquivo Público do Estado e em livros de memórias de
contemporâneos de Cásper Líbero garimpados em sebos. Trata-se de
criterioso trabalho de reconstituição de um personagem que tem nome muito
famoso mas vida desconhecida. O livro de Nitrini revela
a curiosa trajetória de Cásper reproduzindo páginas de
jornais da época, documentos e fotografias sobre a vida do
empresário que começou a carreira como repórter policial em 1910 e
apenas oito anos depois comprou o jornal pré-falido no qual
trabalhava.
Um
dos fatos inusitados é a estratégia
de Cásper Líbero em realizar a primeira
transmissão ao vivo de futebol durante o Campeonato
Sul-Americano em 1922. O visionário Cásper providenciou a
instalação de "cornetas", no alto
do prédio de seu jornal, A Gazeta, situado na
rua Líbero Badaró, em São Paulo, que ficava rodeado pela
multidão interessada pelo jogo. Os
equipamentos reverberavam o jogo lance a
lance, narrado por telefone do Rio de Janeiro, com a
"locução" de Leopoldo Sant´Anna. Talentoso criador de
eventos de marketing, sempre em busca de maior
tiragem da Gazeta, foi também Cásper Líbero quem
criou uma das mais tradicionais corridas de rua do país - a Corrida Internacional
de São Silvestre. Em 1925, foram 62 atletas inscritos. Este ano,
a competição receberá nada menos que 35 mil inscrições
de atletas de várias partes do mundo.
Amor, política e
legado
O livro
também traz relatos sobre sua companheira, a francesa Marguerite
Augustine Leboucher, com quem viveu por 18 anos. Separada de seu
marido, o economista Eugenio Gudin Filho, a misteriosa Maggy
e Cásper se conheceram no período em que Cásper foi
nomeado diretor da primeira sucursal do Estado no
Rio de Janeiro.
No
cenário político, o leitor poderá viajar, por exemplo, pelos
meandros da Revolução Constitucionalista de 1932, na
qual o jornalista e empresário foi um dos líderes. Na
ocasião, Cásper desafiou a censura ao publicar em destaque na Gazeta a
íntegra do poema "Minha Terra, Minha Pobre Terra", de
Ibrahim Nobre. No entanto, seu pragmatismo para manter a Gazeta o levou
a aderir a Getúlio Vargas, o antigo adversário.
Cásper foi
um modernizador não só da estrutura gráfica e técnica como
do conteúdo editorial e do estilo de redação das notícias. Ao
morrer, em 1943, em um desastre de avião, novamente surpreende a
todos: em testamento, deixa seus recursos para a criação de
uma fundação - a Fundação Cásper Líbero - que deveria
instalar a primeira escola de jornalismo do Brasil, além de manter sua rádio e
seu jornal e remunerar os principais funcionários com o lucro do
empreendimento.
Dácio
Nitrini explica porque resolveu escrever sobre Cásper. "Decidi
escrever a biografia quando era diretor de
jornalismo da TV Gazeta. Fiz um trabalho pessoal,
independente da Fundação Cásper Líbero, ao
perceber que havia, mesmo entre alunos e
professores da faculdade de
jornalismo, pouquíssimo conhecimento sobre o homem que
havia deixado sua fortuna para manter aquela estrutura, criar a primeira escola
de jornalismo brasileira, lançar a Corrida de São Silvestre,
tornar poderoso o jornal A Gazeta, que meu pai lia diariamente na
década de 50, etc. Ele é sempre apresentado como
herói da Revolução Constitucionalista de 32, seus despojos
estão no Obelisco do Ibirapuera. O livro mostra que foi bem
além, inclusive tornando-se forte aliado do ditador Getúlio Vargas, seu
tradicional adversário."
"Com
a biografia de Cásper Líbero, a Terceiro Nome avança no seu
trabalho com temas que resgatam a nossa história. Neste final de ano, além do
livro de Dácio Nitrini, uma obra de jornalismo e política, também estamos
lançando o livro Irredutivelmente liberal - política e
cultura na trajetória de Júlio de Mesquita Filho, de Roberto Salone,
sobre o diretor do Estadão que foi contemporâneo
de Cásper. O país está querendo redescobrir o seu
passado, em busca de um futuro melhor", afirma Mary Lou Paris,
editora da Terceiro Nome.
Sobre
Autor:
Dácio
Nitrini é paulistano.
Nasceu em 1951. Entrou para o jornalismo no início dos anos 70,
período de dura censura exercida pela ditadura civil-militar. Nessa época
atuava na imprensa alternativa, em jornais como Extra Realidade
Brasileira, O Grilo e EX-. Foi repórter do semanário
Aqui São Paulo, último jornal pertencente a Samuel Wainer. Em seguida
trabalhou no Estadão, como repórter de Geral, destacado para
cobrir o renascente movimento estudantil na fase
inicial da abertura política. Cobriu a histórica
invasão da PUC-SP pelas forças policiais. Na Rádio Globo, atuou
como repórter e produtor do programa SP Zero Hora, dirigido por Goulart de
Andrade, de onde se transferiu para o Globo Repórter, sendo
repórter-editor de documentários. De volta à imprensa escrita,
de 1980 a 1988, na Folha de S. Paulo exerceu as funções de
repórter especial, editor de Cidades, secretário de redação,
chefe da Agência Folhas. Participou da chefia das
coberturas da campanha Diretas-Já e da morte de Tancredo
Neves. A partir de 1988 voltou para o setor de
telejornalismo. Participou da equipe que
criou o TJBrasil, do qual foi diretor
executivo, o primeiro telejornal a possuir um âncora com
independência de opinião na tv brasileira. Sete anos depois,
implantou esse mesmo projeto na TV Record, de onde saiu em 2005. Na TV Cultura
paulista, dirigiu a cobertura eleitoral de 2006. Foi diretor de jornalismo da TV
Gazeta-SP de 2010 a 2018. Diplomado pela
Faculdade Cásper Líbero, turma de 82, foi
professor da escola em 1985 e 1986. Ganhador do Prêmio Vladimir
Herzog de Direitos Humanos, é co-autor, com Edmilson Lucas da Silva,
de Matar ou morrer, autobiografia de um menor abandonado e
coordenador da edição fac-similar do jornal EX-, publicada
pela Imprensa Oficial de S. Paulo.
Editora Terceiro Nome:
Criada em
1998, o principal foco da Terceiro Nome é
a publicação de livros com temas relacionados ao Brasil, em especial
nas áreas de humanidades e no diálogo entre textos e imagens. Dirigida por
Mary Lou Paris, a editora já recebeu vários prêmios e indicações,
entre os quais o Jabuti para livros como, de Francis Hime; Diário
de navegação de Pero Lopes de Sousa, de Vallandro Keating e Ricardo
Maranhão; De Anita Malfatti à primeira Bienal, de Paulo Mendes de
Almeida; Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do
Brasil, de Renata Meirelles; O Brasil visto do mar sem fim,
de João Lara Mesquita; Alfredo Mesquita: um grã-fino na contramão,
de Marta Góes e O súdito, de Jorge Okubaro. Também
ganhou o APCA pelos livros Vilanova Artigas e A
mão livre do vovô, que fizeram parte do projeto da memória
de 100 anos do arquiteto.
Serviço
Cásper Líbero, jornalista que
fez escola
Autor: Dácio
Nitrini
Páginas: 208 páginas
Preço: R$ 46,00
Editora Terceiro Nome
Fonte: Assessoria de Imprensa
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