A
exposição coletiva “Caminhando” está em cartaz no Centro Cultural Banco do
Nordeste-Fortaleza, com curadoria do Grupo de Estudos Processos de Curadoria do
CCBNB-Fortaleza. Gratuita ao público, a mostra fica em cartaz até o próximo dia
17 de maio (horários de visitação: de terça-feira a sábado, das 10h às 20h).
“Caminhando”
trata-se da primeira exposição resultante dos encontros do Grupo de Estudos
Processos de Curadoria do CCBNB-Fortaleza. A iniciativa de reunião deste grupo
visa promover um debate sobre o campo de atuação deste profissional cada vez
mais importante no cenário contemporâneo, o curador.
A
mostra é resultado dos encontros e discussões do grupo e apresenta ao
espectador questionamentos a respeito do corpo e suas potencialidades através
das obras de alguns dos artistas que integram o recente acervo do CCBNB.
São
eles: Amanda Melo, Carlos Melo, Cristiano Lenhardt, Filipe Acácio, Gaio Matos,
Juliana Notari, Marina de Botas, Nino Cais, Rodrigo Braga, Solon Ribeiro, Waléria
Américo e Yuri Firmeza.
Por
sua vez, o Grupo de Estudos Processos de Curadoria do CCBNB-Fortaleza é formado
por: Bia Perlingeiro, Clara Machado, Cecília Bedê, Juliana Castro, Kennedy
Saldanha, Lara Vasconcelos e Mel Andrade.
Do
processo (texto de Cecília Bedê)
O
caminho que pretende percorrer este texto tem o objetivo de deixar um rastro do
processo de trabalho do Grupo de Estudos Processos de Curadoria, que tem na
mostra “Caminhando”, um lugar de decantação das ideias trabalhadas e alcançadas
durante os encontros. O percurso do grupo incluiu: leituras e pesquisas
coletivas, debates, encontros com artistas, visitas ao acervo e às exposições
do CCBNB-Fortaleza, produção de textos críticos, seleção de obras e elaboração
do projeto da exposição. A intenção era passar por todo o processo de trabalho
de um curador e se deparar com questões, problemas e soluções que este
profissional pode vir a encontrar em seu caminho.
“O
que exatamente vocês fazem, quando fazem ou esperam fazer curadoria?”. Este é o
título da vídeo-instalação dos artistas Yuri Firmeza e Pablo Lobato – que
tivemos a oportunidade de ver no CCBNB-Fortaleza – e é também a pergunta que se
faz hoje. Durante os estudos do Grupo, chegamos a quase respostas ao
encontrarmos depoimentos, entrevistas e falas de curadores, na instalação
citada e em publicações e textos encontrados; porém, só nos deparamos com algo
próximo ao entendimento da curadoria quando nos vimos fazendo uma. A busca pelo
conhecimento da atividade do curador levou a penetrar nela mesma e com isso
chegamos à inevitável consequência de tanta procura – a exposição.
Durante
os primeiros encontros do Grupo, estudamos mais diretamente sobre o processo de
trabalho do curador e a construção de curadorias.Visitamos o acervo do CCBNB,
concomitantemente às discussões sobre os textos, com a finalidade de conhecer
as obras e escolher algumas para trabalharmos. Diante do pouco espaço da
reserva técnica e devido às mudanças pelas quais o CCBNB-Fortaleza estava
passando, acabamos por ver poucas obras, talvez as mais recentes a comporem o
acervo. Mas, apesar do pequeno leque, algo se colocou à nossa frente e nos
tomou de assalto: o corpo presente. A partir daí, começamos uma busca intensa
pelo corpo, na arte.
A
“arte do corpo”, assim como classificada do tipo “ismo”, é datada. A partir dos
anos 1950 já se falava, registrava e vivenciava experiências com o corpo. Em se
tratando de obras consideradas contemporâneas e mais especificamente nas obras
que escolhemos como ponto de partida, nos veio a pergunta: o que pode ser
absorvido como novo, diante da ainda utilização do corpo? Foi aí que chegamos
ao texto “Afinal, o que há por trás da coisa corporal?”, de Suely Rolnik, onde
a autora traz uma provocação, chamando a atenção para os trabalhos contemporâneos
que evocam não o “corpo”, mas sim a “coisa corporal”, a imagem do corpo, a
literalidade dele, ele como um suporte quase técnico. Então, deixa no ar a
pergunta, onde está o corpo de fato nessas obras? Essa é a pergunta que nos
move e que queremos provocar com a exposição.
Em alguns momentos, destacamos frentes que nos levavam a possíveis discursos. Foram elas: o corpo implicado, a presença do artista ou a sua intimidade, o personagem e a proposição. Questões que, de certa forma, perpassam todas as obras aqui trabalhadas. Com tudo isso, fizemos um grande passeio por textos que nos alimentaram.
Em alguns momentos, destacamos frentes que nos levavam a possíveis discursos. Foram elas: o corpo implicado, a presença do artista ou a sua intimidade, o personagem e a proposição. Questões que, de certa forma, perpassam todas as obras aqui trabalhadas. Com tudo isso, fizemos um grande passeio por textos que nos alimentaram.
A
exposição se chama “Caminhando”, título que faz referência à obra da artista
Lygia Clark, que marca um momento importante da arte contemporânea brasileira,
quando o corpo passa a não ter mais um papel coadjuvante, como o corpo do
artista que cria. Com ela, queremos então trazer ao espectador, não a resposta,
mas sim a pergunta: o que há de mais profundo do que o próprio corpo do artista
nas obras em questão? Logo, assumimos o tema surgido ao acaso como a crise a
ser vivenciada enquanto grupo de curadores.
“Caminhando”,
esse gerúndio tão nosso (texto coletivo do grupo)
O
encontro com a obra de Lygia Clark nos chegou pelo texto “Afinal, o que há por
trás da coisa corporal?”, de Suely Rolnik, cuja leitura foi fundamental para a
construção de certas questões que começavam a nos implicar neste percurso de
investigação. Após algumas visitas ao acervo do Centro Cultural Banco do
Nordeste, começamos a perceber que a relação comum entre a maioria das obras
que nos mobilizavam era, sobretudo, um relação corporal. O corpo sempre
presente como problema, dispositivo, suporte, materialidade, imagem, ausência,
limite, convite. Corpo que convoca outros corpos.
De
alguma forma, todas as obras aqui expostas contêm, insinuam, indicam ou
convidam um corpo. Em muitas, o corpo do próprio artista se faz presente. Em
outras, apenas uma ideia de biografia e intimidade. Noutras, um convite ao
corpo para uma experiência. Essa reunião, inicialmente aleatória, acaba por se
tornar uma rede onde nos sentimos provocados a desvendar.
A
nossa questão aqui, no entanto, transborda a querela corporal. E a relação que
estabelecemos com Lygia Clark – de quem pegamos emprestado o nome desta
exposição – se atalha ainda por outros caminhos.
Em
1964, pensando sobre um dos seus mais importantes trabalhos, Lygia Clark
escreveu: “O Caminhando tem todas as possibilidades ligadas à
ação em si: ele permite a escolha, o imprevisível, a transformação de uma
virtualidade em um empreendimento concreto”. Aqui, tomamos para nós o gerúndio
de Lygia. Por entender que o gesto de criação é, sobretudo, um gesto contínuo,
ininterrupto, intermitente. E a curadoria, uma operação sensível, de cuidados.
Gesto de invenção de um lugar. A curadoria com um Caminhando. Corte
longitudinal no real que se enlaça em tramas. Ofício de escolher ao passo em
que assume o risco do imprevisível. Tarefa mesmo de “transformar uma
virtualidade em um empreendimento concreto”. E não por isso menos flexível. Caminhemos.
O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza funciona na Rua Floriano Peixoto, 941, Centro, em Fortaleza/CE.
Mais informações: (85) 3464-3108.
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