Produzida pela Heco Produções
e dirigida por Eugenio Puppo, a série OCUPAÇÕES tem
como tema central os movimentos presentes em grandes cidades brasileiras que
utilizam a estratégia da ocupação dos espaços para dar voz a suas
reivindicações. Com consultoria do arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik, a
série traz à tona o debate entre os diversos grupos interessados em promover a
efetivação de políticas públicas e uma sociedade menos desigual, passando pela
questão da moradia, do acesso aos bens e serviços públicos, do planejamento
urbano, da cultura e dos movimentos sociais. Com 13 episódios de 30 minutos
cada, OCUPAÇÕES será exibida no CineBrasil TV.
As ocupações são um fenômeno
típico de nosso tempo. Há quase uma década, eclodiram os protestos da Primavera
Árabe e do movimento Occupy Wall Street, e essa forma de mobilização foi
ganhando muito espaço midiático e no imaginário popular. De fato, eles marcaram
um momento importante de reflexão crítica acerca do processo de ação coletiva,
propondo uma forma de organização mais horizontal e espontânea e servindo como
aglutinadores de pautas muito heterogêneas. As cidades brasileiras também
tiveram suas versões desses movimentos, com ecos e desdobramentos até os dias
atuais. Entretanto, no caso nacional, as ocupações incorporam processos ainda
mais diversos e complexos, que remontam à nossa própria formação socioespacial
e política em tempos históricos mais recuados. Esses processos representam
esforços condizentes à providência de condições básicas para a sobrevivência
humana, como o direito ao trabalho e à moradia. A ocupação, aqui, descortina
situações, denuncia necessidades e cria expectativas de transformação para
populações desfavorecidas no campo e na cidade.
A série OCUPAÇÕES busca
recuperar as especificidades desses movimentos em nosso país, fornecendo uma
interligação entre o apanhado histórico, que relaciona a ocupação territorial
com as injustiças da concentração de renda; a palavra de estudiosos que se
dedicam a imprimir um olhar distanciado a esse tema de enorme vulto na
contemporaneidade; e o depoimento de indivíduos que buscam cotidianamente essa
via alternativa de organização social, compartilhando experiências, êxitos e
fracassos de suas ações.
Os 13 episódios de OCUPAÇÕES estão
divididos tematicamente e contêm histórias colhidas em quatro cidades
brasileiras: São Paulo, Belo Horizonte, Rio Bonito do Iguaçu e Recife. O
primeiro episódio apresenta as ocupações no campo, abarcando questões da luta
indígena e do Movimento Sem-Terra. A partir daí, realiza-se uma trajetória
gradual em direção aos problemas urbanos, detalhando algumas informações-chave
sobre a carência de moradia, os fluxos migratórios e as ações governamentais de
enfrentamento a essa dificuldade. Em seguida, a série se debruça a explorar
movimentos mais recentes, como a reivindicação de espaços de convivência e
maior participação popular nas decisões da cidade — todos sob a pauta do
chamado “direito à cidade”. Volta-se o olhar também para iniciativas conduzidas
nas periferias das cidades que buscam tornar essas regiões locais mais
inclusivos e democráticos. OCUPAÇÕES finaliza seus
episódios abordando as ocupações das escolas públicas pelo movimento
secundarista, uma reação espontânea e organizada contrária a determinadas ações
governamentais, proporcionando algum vislumbre do futuro dessa forma de
resistência. Entre os entrevistados da série estão Raquel Rolnik, urbanista e
pesquisadora dos processos de ocupação das cidades; José Lira, professor
universitário e especialista em história e fundamentos da arquitetura; Paula
Santoro, professora de planejamento urbano e coordenadora do observaSP,
laboratório que pesquisa inclusão socioterritorial; Elemar Cezimbra, líder do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra; Guilherme Boulos, líder do
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto; Áurea Carolina, eleita deputada federal
em 2018; Padre Júlo Lancelotti, Vigário Episcopal para o Povo da Rua; Daniel
Scandurra, integrante do movimento de ocupação do Parque Augusta; Pablo
Ortellado, colunista da Folha de São Paulo e pesquisador das novas dinâmicas
dos meios digitais; Grupo OPNI, coletivo de grafiteiros responsável por uma
galeria de arte a céu aberto em São Mateus, São Paulo; entre outros.
OCUPAÇÕES se
utiliza de uma linguagem pouco vista em programas televisivos. As imagens têm
durações mais longas, por vezes se mantendo em planos-sequência, convidando o
espectador à reflexão diante dos depoimentos em voz over. OCUPAÇÕES preza
pelo cuidado na composição e com o ritmo interno das imagens, flertando com
características da linguagem cinematográfica contemporânea. Houve a preocupação
em manter a concisão dos depoimentos, extraindo deles apenas as informações
essenciais e de maior interesse dentro do discurso da série. Esse discurso é
sustentado por uma riqueza de materiais de arquivo, constituídos por uma
miríade de fontes e suportes, como longas-metragens de ficção, documentários
antigos e recentes, cinejornais, filmes institucionais do governo, vídeos
feitos com celular e registros pessoais de ocupações. Além disso, destaca-se a
marcante trilha musical do compositor Walter Smetak, repleta de dissonâncias e
sons inusitados extraídos de seus instrumentos musicais de invenção própria.
Smetak promovia uma verdadeira investigação musical, até com traços de
misticismo, o que chamou muito a atenção de participantes do movimento
tropicalista. A incorporação de suas gravações em OCUPAÇÕES configura
também uma homenagem a esse grande artista brasileiro.
EPISÓDIOS
Episódio 01 –
Terra
O primeiro episódio da série
traz à tona o conflito pela terra no Brasil e questiona: qual direito tem maior
valor, o direito à moradia e trabalho dignos ou o direito à propriedade
privada? Mostrando o histórico da luta pela terra do MST e das comunidades
indígenas Xukuru do Ororubá, de Pernambuco, e Guarani M’bia, de São Paulo,
coloca-se o conflito entre as diversas relações desses grupos com a terra e os
interesses individuais de alguns proprietários.
Episódio 2 -
Propriedade
O processo histórico
brasileiro nos mostra que uma série de privilégios e ações legislativas provocaram
a concentração da terra nas mãos de poucos, principalmente a partir da Lei de
Terras de 1850. Esse fato teve grande responsabilidade na instituição da falta
de moradia e de um terreno produtivo como grandes problemas sociais no país,
refletindo na formação de nossas cidades. O episódio apresenta alguns exemplos
de populações que foram relegadas a situações precárias de moradia e a todo
tempo precisam lutar para evitar uma reviravolta ainda maior em suas vidas,
como despejos e reintegrações de posse.
Episódio 03 – Gestão
Pública
O que a gestão pública pode
fazer em relação ao acesso à moradia? Na cidade do Recife, já na década de
1930, mais da metade das construções eram irregulares e feitas de maneira
improvisada, o que levou à criação de um dos primeiros órgãos públicos
dedicados ao problema da moradia. Durante o governo militar, vemos a criação do
Banco Nacional de Habitação (BNH) e depois disso, muitos foram os projetos de
habitação, como a COHAB, a CDHU e, atualmente, o programa mais importante, Minha
Casa, Minha Vida. Esses programas resolveram a questão de habitação das grandes
cidades ou ao contrário, criaram novas bordas periféricas nas cidades, com
moradias de baixa qualidade, e enfraqueceram os movimentos sociais?
Episódio 4 -
Mutirões
Em paralelo ao crescimento das
cidades, nascem também os movimentos sociais da luta pela moradia. Experiências
de construção de moradias populares nas cidades através de mutirões
participativos inauguram um novo modo de pensar a habitação social, priorizando
a qualidade urbanística e arquitetônica, com a participação popular e menor
custo para o Estado. Entretanto, mais recentemente, essas experiências se viram
ameaçadas pela instauração do programa Minha Casa, Minha Vida, que colocou nas
mãos de empreiteiras a responsabilidade de planejar a habitação social,
resultando no enfraquecimento desses movimentos. Acompanhamos um dos poucos
mutirões remanescentes, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
Leste, além de obras já concluídas, como o Conjunto Habitacional Paulo Freire,
em Cidade Tiradentes.
Episódio 05 –
Moradia
A ocupação de terrenos e
edifícios ociosos representa uma importante maneira de pressionar as
autoridades em relação ao direito à moradia no meio urbano. O Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST) é um exemplo emblemático de organização que tem
essa estratégia como principal ferramenta de luta e resistência contra a
mercantilização das cidades. Outros movimentos que utilizam a são as ocupações
da Isidora, em Belo Horizonte, a ocupação Mauá, em São Paulo, e a resistência
do bairro de Brasília Teimosa, em Recife. O episódio investiga como esses
movimentos sociais e populares se organizam e o teor de suas
reivindicações.
Episódio 6 - Casa
Invisível
Atualmente no Brasil há
milhares de pessoas vivendo nas ruas. Políticas sociais falhas, soluções
higienistas, preconceito e invisibilidade ainda são a tônica no enfrentamento
da miséria urbana das grandes cidades. Além disso, a política habitacional é
falha na inserção dos moradores de rua em seus planejamentos. Sob o viaduto
Alcântara Machado na zona central de São Paulo, moradores organizados em
barracos improvisados mostram as dificuldades do seu cotidiano. Nas ruas da
cidade, o Padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, conta sobre sua
experiência em defesa de pessoas excluídas.
Episódio 07 -
Zoneamento
O trabalho dos urbanistas nas
grandes cidades brasileiras ajuda a esclarecer o intenso conflito entre forças
antagônicas disputando a ocupação dos espaços urbanos, como as construtoras, o
poder legislativo e os movimentos sociais. Mecanismos mais recentes como o
Plano Diretor Estratégico vêm tentar promover um equilíbrio desses interesses,
ainda que estejam permeados de contradições e brechas institucionais. O
episódio investiga a participação de alguns desses atores no processo de
planejamento urbano, tão importante para que se promova uma verdadeira
transformação na dinâmica de nossas cidades.
Episódio 8 – Direito à
Cidade
Recentemente observa-se o
surgimento de uma série de movimentos que demandam a participação popular na
construção e no desenvolvimento das cidades e que rejeitam a forma como as
decisões são tomadas pelos poderes municipais. Organizadas sob o conceito de
“direito à cidade”, essas reivindicações dão voz a grupos sociais muito
diversos. O maior exemplo disso foi o Movimento Ocupe Estelita, do Recife, que
tomou o terreno do histórico Cais José Estelita, vendido pelo governo por
valores abaixo do mercado para a construção de empreendimentos
imobiliários.
Episódio 09 – Espaço
Público
No Brasil há casos
emblemáticos de ocupações de espaços públicos como forma de resistência contra
a construção de empreendimentos imobiliários e o cerceamento desses espaços. Em
São Paulo, o movimento Parque Augusta reivindica que a última área verde da
região central da cidade seja transformada em um parque público e gerido pela
própria população. Já em Belo Horizonte, o movimento Praia da Estação iniciou
uma ocupação de uma praça pública da cidade em resposta a um decreto da Prefeitura
que proibia manifestações populares e culturais em espaços públicos. Ao longo
dos anos, o movimento alcançou maior escala e agrega uma série de
reivindicações relacionadas ao direito à cidade.
Episódio 10 -
Mobilidade
Nas grandes cidades, a
expansão da periferia somada à concentração das ofertas de trabalho e lazer nas
regiões centrais cria um enorme fluxo diário que se movimenta pelos corredores
metropolitanos. Em São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, a priorização do
transporte individual gerou mudanças físicas na geografia da cidade, com rios
sendo canalizados e várzeas aterradas para a criação de pistas para automóveis.
Em sentido contrário, movimentos como o MPL (Movimento Passe Livre) e os
ciclo-ativistas, lutam por alternativas que visam à democratização do
transporte e o acesso à cidade.
Episódio 11 -
Guerrilha
Com a força cada vez maior dos
movimentos de ocupação dos espaços públicos, tornam-se latentes as
especificidades de cada um deles. Defender essa luta a partir de um recorte
racial revela a necessidade de organizar espaços na cidade que desconstruam
práticas racistas e que afirmem o protagonismo negro. Áurea Carolina, vereadora
mais votada de Belo Horizonte em 2016, defende a ocupação da política para
promover a pluralidade de vozes nas instituições. Em Olinda, Mãe Beth de Oxum
organiza festas na rua como forma de resistência da tradição cultural do Coco
de Umbigada e de enfrentamento à intolerância religiosa.
Episódio 12 -
Periferias
A periferia das grandes
cidades é uma ilustração direta da lógica da exclusão. Porém, é necessário
pensar nessas regiões para além do discurso da carência, ressaltando a
resistência e o protagonismo de seus moradores. Para quem vive nas periferias,
as lutas de ocupação não se dão apenas do espaço público físico, mas no espaço
público enquanto lugar de voz, de atuação. O coletivo OPNI, na Zona Leste de
São Paulo, mostra como o graffiti se tornou uma
forma de expressão da identidade e dos problemas do bairro. Na Zona Sul, a Cia.
Humbalada conta como é fazer teatro na periferia e como a discussão de gênero e
sexualidade encontra na arte um lugar de afirmação em suas regiões.
Episódio 13 –
Secundaristas
A precariedade de
serviços públicos essenciais como a educação e a saúde no Brasil é um consenso
nacional. O movimento de ocupação de escolas pelos estudantes nas cidades
brasileiras ganhou força no final de 2015, demandando educação de qualidade e
maior diálogo com a comunidade escolar por parte dos gestores públicos. Pouco a
pouco, o movimento foi ganhando uma força inédita e conseguiu revogar o plano
de reorganização da educação que seria implantado pelo governo estadual de São
Paulo. Ocupações ganharam adeptos em escolas de todo o Brasil, onde os jovens
puderam experimentar novas formas de aprendizado, de relação e de construção
coletiva.
Postar um comentário