Nascida Lúcia, mas batizada Suanê pelo pajé da aldeia do povo indígena Fulni-ô, no interior pernambucano, a artista plástica teve intenso convívio com as tradições da comunidade da vila de Águas Belas e de outros vilarejos, até chegar a Recife e Olinda. Das vivências se inspirou nas memórias, nas lendas contadas, músicas e rezas ouvidas para transformar tudo em arte. Parte dessa produção estará na exposição que tem a curadoria de Ivo Mesquita, e reúne obras da fase contemporânea de Suanê a partir de maio na Galeria Estação, em São Paulo.
A exposição reúne um conjunto representativo de trabalhos da última etapa da carreira da artista pernambucana (1922-2020) radicada desde 1940 em São Paulo onde desenvolveu, de forma discreta, mas longa e intensa, uma produção artística consistente, própria do seu tempo. Foram seus últimos 20 anos de atuação.
“O aparecimento desta surpreendente produção em uma profissional conhecida como pintora de têmperas, figurativa, revela sua capacidade de transformação, com o abandono dos cânones tradicionais da sua prática, para lançar-se em um campo aberto de experimentação formal, onde os trabalhos nascem de um pensamento abstrato, uma vontade de forma a partir de materiais, linhas e cores, em procedimentos de apropriação, montagem, colagem, costura, bordado, construção, amarração, gambiarras”, destaca o curador Ivo Mesquita.
Em seu texto de parede, o curador enaltece o final da produção de Suanê, com pinturas como objetos construídos manualmente, num trabalho fresco e vigoroso, na manipulação de telas, madeiras, tecidos, cordas, barbantes, contas, metais, arame, papelão, fios de cabelo, entre outros, num movimento francamente libertário. Para ela uma experiência vital depois de quase uma década sem trabalhar.
Foi com o incentivo do marido, Nelson Nóbrega – pintor, desenhista, gravador e professor - que ela criou um estilo único para ancorar sua trajetória artística multifacetada, incorporando elementos de várias proposições estéticas, em diferentes fases da sua carreira. E não por acaso, a veia artística da família é reconhecida no fato de Suanê ser tia-avó do também pernambucano Tunga (Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão), artista plástico nascido em Palmares-PE, em 1952.
Lúcia Suanê Carvalho Nóbrega (1922-2020) participou da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, e em salões internacionais de cidades como Paris, Tóquio e Santiago. Também esteve no 20º Panorama de Arte Atual Brasileira em 1989. Em 2024, Suanê teve sua primeira grande retrospectiva exibida no Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP).
Mesmo com diversas participações em eventos nacionais e internacionais de grande impacto no mundo artístico, Suanê não conquistou, no Brasil, a mesma projeção ainda que estivesse integrada aos debates contemporâneos.
O trabalho e a trajetória da artista também instigam a reflexão sobre os limites da história da arte entre os séculos 19 e 20, conforme destacou o curador da exposição realizada no MAC-USP em 2024, Tálisson Melo.
Com formas diversas para aliar o mundo das coisas a uma dimensão cósmica da vida, a artista realizou, no período de meados de 1940 a 2020, um trabalho intermitente, com pequenas pausas na produção. E adotou, na extensão desse percurso, formas diversas de aliar o mundo das coisas a uma dimensão cósmica da vida.
No início, foi a fase da alternância entre a representação de cenas religiosas, naturezas-mortas e retratos. No final da década de 1980, vieram as pinturas que sugerem visões do céu e do universo.
Já no período entre 2006 e 2019, a artista passa a recortar e abrir áreas vazias no suporte de suas peças. São incorporados tecidos, cordas, madeira, plástico e lâminas de metal aos processos produtivos.
Com a representação da Galeria Estação, Suanê terá revisitada a última fase de sua produção, a partir dos anos 2000, que marca a mescla de materiais incorporados às obras e expandindo o vocabulário a um patamar ilimitado, que faz alusão ao cosmos e integra elementos que propõe novas leituras a partir de formas, cores, texturas e brilhos.
Serviço
Suanê
Período expositivo: 21 de maio a 05 de julho
Abertura: 21/05 – 18h
Local: Galeria Estação
Endereço: Rua Ferreira de Araújo, 625 - Pinheiros - São Paulo-SP
Telefone: 11 3813-7253
Horário de visitação: segunda a sexta: das 11h às 19h | sábados: das 11h às 15h
Foto/Crédito: Filipe Berndt - Cortesia Galeria Estação - Legenda: Sem título - nanquim e aquarela sobre papel
Fonte: Assessoria de Imprensa
Postar um comentário