Duelo entre o real e o imaginário
no novo livro de Linaldo Guedes por Ronaldo Braga:
A poesia de Linaldo Guedes é um
grito carinhoso que continua mais forte no seu silencio, que nos pergunta o
tempo todo sobre organização e alma, sobre vida e acordo, poesia que é um
solapo em nossa quietude e ler “Metáforas para um duelo no sertão do
poeta” Linaldo Guedes nos permite um momento onde a quietude não
é uma calmaria, antes é uma necessidade de sobrevivência,
pois é preciso depois da leitura fechar o livro e organizar o turbilhão de
imagens, de buscas, de caminhos que de forma firme e duradoura ocupam nosso
cérebro.
Há e sempre houve muitos duelos no
sertão, o sangue brota de peitos lacerados e cabeças erguidas, e o poeta da
Paraíba, nos revela outro duelo dentro de todos os duelos sertanejos, o duelo
que marca a fronteira entre o real e o imaginário, entre a escolha e o imposto,
entre o ser e o nada, um duelo travado na fome que não nos devora e sim nos
impulsiona como fortes para caminhar entre espinhos e sedes, a fome que é o
caminhar, o viver entre nuvens de ideias e poucas certezas, a fome que nos
mantém vivos.
É, portanto, desta fome que trata o
livro do poeta Guedes, uma fome bela e que no sertanejo às vezes coberta como
poeira por outras fomes pode nos aparentar fracos ou mesmo vitimas. E a poesia
de Linaldo não tem a dor do fracasso ou da vingança, mas a serenidade da
percepção que a vida sofre, mas também é uma festa, é uma espera e é sempre uma
luta dentro de muitas outras lutas.
"meu pai sorriu
à sombra da goiabeira
nada de rugas na face
apenas a névoa
de um tempo escondido pela sombra
das horas."
O passado na figura do pai é de uma
melancólica e doce lembrança, não no sofrimento, mas na névoa que reescreve o
rosto na falta de rugas e numa sombra, a da goiabeira, uma outra faz suave e
sábio o nosso existir, o das horas.
E enfrentando a religião sem raivas
e sem medos ele afirma:
"matraca silenciosa
liturgia de augusto
remoendo
moendo
doendo
moenda
- bagaço de homem no altar dos
sertões".
E o poeta Linaldo Guedes brinca com
sua infância, seu crescer, sua família e entre alegrias e descobertas ele
afirma a sadia desavença entre idades e sexos no ninho, que é um pouco revelado
na sombra da goiabeira, salta agora em Lili, em Deci, Didi, Laura, em Laudeni,
na galega Neném e se junta na rede com o pai, embalado em natais onde a família
tocaiava sonhos de olho no alpendre, pois sabedor que
"liturgia de oração
- negação do jejum do prazer"
Linaldo declara:
"nunca conseguira entender a
falta de pão"
Pois é com poesia que o poeta
enfrenta dores e calúnias
"sou um homem marcado
marcado para doer
gado preso no curral
quando não, abatido
comendo Baudelaire
na erva daninha de meu capim."
E continua caminhando por entre
fantasmas nas brincadeiras de muitas humanidades, fazendo duelar os medos dos
12 anos, bumba meu boi e sombras na parede, com a dura realidade do homem
quarentão que nada teme, mas
"tanto medo aos 12
aos 40, medo só de seu olhar de
graúna"
Linaldo Guedes não vive por ai
afirmando sua sertanidade, antes universal sabe das necessidades de superar
mitos e vencer etapas
"cansei de pasárgada
este negócio de sentar-se
eternamente no trono
não compensa a mulher que
queremos"
Podemos então arriscar que “Metáforas
para um duelo no sertão” do poeta paraibano LINALDO GUEDES, publicação
da editora Patuá é não um mergulho no próprio umbigo do poeta, mas sim a
afirmação da vida com toda a dor e o prazer que tem no fato de viver e que
também soa este livro como uma canção que pode ser um grito forte saudando
nossas fomes e um esperançoso desejo de duelar.
Recomendo a leitura de “Metáforas
para um duelo no sertão”, que com certeza vai abrir horizontes e
permitir o deleite do belo numa terra árida e fazer plainar azedumes em dias de
fugas, Um livro com um coração repleto de amores e fomes e sempre um coração
decidido.
Ronaldo Braga é poeta baiano.
Foto: Reprodução/divulgação.
Obrigado pela postagem. Só agora soube.
ResponderExcluirRonaldo Braga
ronaldobraga.s@gmail.com
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