“Autorretrato e outras crônicas”, de Carlos
Drummond de Andrade, foi o primeiro livro a ser impresso no recém-inaugurado
parque gráfico da editora Record, em 1989. O poeta havia morrido dois anos
antes e a coletânea viria a ser uma homenagem póstuma, com textos inéditos.
Organizada por Fernando Py, a obra trazia crônicas escritas num largo período,
entre 1943 a 1970, e publicadas na revista Leitura, no Correio da Manhã e no
Jornal do Brasil. Esta nova edição, autorizada pelos herdeiros e pela nova casa
editorial que abriga a obra de Drummond, será única e comemorativa dos 75 anos
do Grupo Editorial Record.
No livro,
foi incluído um encarte feito a partir de pesquisas no acervo da família
Machado, proprietária da Record, da própria editora e da obra do autor guardada
pela Casa de Rui Barbosa. A capa da primeira edição, a folha de rosto com um
selo do sesquicentenário de Machado de Assis, cartas trocadas entre o editor
Alfredo Machado e Drummond e ainda contratos de livros assinados pelo poeta
estão entre as pérolas encontradas nos arquivos e que agora vêm a público no
livro.
A capa
foi inspirada na original, a partir do retrato de Drummond feito por Portinari,
em 1936. Além das crônicas e do texto original do organizador, essa edição traz
ainda uma apresentação feita por Sônia Machado Jardim, atual presidente do
Grupo Record. Para Fernando Py, “a atividade de cronista, em Drummond, é muito
afim da sua poesia. Nestas crônicas, podemos notar o tom coloquial, o humour, e não raro a ironia (ou
‘autoironia’, como na crônica de abertura), bem típica dos melhores momentos do
poeta.”
“Autorretrato
e outras crônicas” chega às livrarias em maio.
TRECHO:
“Diz o espelho:
O sr. Carlos Drummond de Andrade
é um razoável prosador que se julga bom poeta, no que se ilude. Como prosador,
assinou algumas crônicas e alguns contos que revelam certo conhecimento das
formas graciosas de expressão, certo humour e malícia. Como
poeta, falta-lhe tudo isso e sobram-lhe os seguintes defeitos: é estropiado,
antieufônico, desconceituoso, arbitrário, grotesco e tatibitate. O maior dos
nossos críticos passados, presentes e futuros, o sr. Pontes, que tirou do
próprio nome essa consistência de cimento armado, característica do seu estilo,
incumbiu-se de lembrar-lhe todos os dias que ele não é poeta; que poeta, só B.
Lopese Théodore de Banville. Mas o sr. Drummond teima em não escutar a lição
desse douto espírito, e a todo momento nos oferece mesquinhas produções poéticas,
de que resultam cólicas e explosões nas pessoas de bom gosto, o sr. Pontes
inclusive.
O sr. Drummond de Andrade passa
por ser o autor de um poema (?) ou que melhor nome tenha, a que deu o título
“No meio do caminho”. Essa produção corre mundo e é considerada ora obra de
gênio, ora monumento de estupidez. Na realidade, não é nenhuma dessas coisas,
nem pertence ao estro do sr. Drummond. Com efeito, quem se der ao trabalho de
examinar-lhe o texto verificará que se trata tão somente da repetição, oito
vezes seguidas, dos substantivos ‘meio’, ‘caminho’ e ‘pedra’, ligados por
preposições, artigos e um verbo. Não há nisto poema algum, bom ou mau. Há
apenas alguns vocábulos, que podem ser encontrados facilmente no Pequeno
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, revisto pelo sr. Aurélio
Buarque de Holanda.
Esse pequeno fato literário fez
despertar em alguns julgadores a suspeita de que se trata de um mistificador.
Tem-se por vezes a impressão de que o sr. Drummond se diverte com o escândalo
produzido por seus escritos, escândalo de que emergem as seguintes opiniões a
seu respeito: ‘É um burro.’‘É um louco.’‘É superior a Castro Alves e igual a
Baudelaire.’”
SOBRE O AUTOR:
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em
Itabira, Minas Gerais. Poeta, contista e cronista, considerado um dos maiores
nomes da poesia brasileira de todos os tempos, é autor, entre outros títulos,
de Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento
do mundo, Claro enigma, Fazendeiro
do ar e Fala,
amendoeira.
SERVIÇO
AUTORRETRATO
E OUTRAS CRÔNICAS
Carlos
Drummond de Andrade
Preço: R$
39,90
Páginas:
256
Editora
Record / Grupo Editorial Record
Fonte: Imprensa
Grupo Editorial Record
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