Reflexões
acerca de temas polêmicos e tão caros ao mundo atual, como colonialismo, democracia, pós-verdade
e o papel das plantas psicoativas na sociedade
contemporânea conduzem a obra de Stephan Doitschinoff. Autor de uma arte energética, ele
estrutura seu trabalho em um sistema de símbolos autorais de narrativa
singular, com desenhos, pinturas, esculturas, vídeos e instalações. O artista,
agora, abre as portas de seu universo onírico e convida o público a adentrá-las
por meio da exposição Estaremos aqui
para sempre, individual exibida a partir de 14 de agosto, na Janaina Torres Galeria.
Com
curadoria de Daniel Rangel, a mostra reúne um conjunto
inédito de trabalhos produzidos por Doitschinoff nos
últimos cinco anos. São obras que evidenciam sua intensa pesquisa
sobre a sociedade contemporânea a partir de ícones e símbolos
autorais e ainda elementos advindos de diversas culturas e religiões, como o
catolicismo, a umbanda e o xamanismo.
"É
uma obra com influências surrealistas, uma escrita visual carregada de
informações criptografadas por uma literatura fantástica imagética acerca da
contemporaneidade", pontua o curador, que participará de um bate-papo com
o artista no dia 31 de agosto, das 16h às 18h, na Galeria.
Um
dos destaques da exposição é a instalação Interventu (2017),
obra comissionada por Rachel Thomas, curadora do Museu
de Arte Moderna da Irlanda (IMMA), onde o
artista foi convidado a fazer uma residência de dois meses. O título e o
conceito do trabalho têm origem em uma pesquisa de Stephan em
torno da prática votiva e os diversos tipos de ex-votos, objetos oferecidos a
santos e divindades em troca de uma graça. O artista utilizou ex-votos
originais de Juazeiro do Norte, Ceará, e de outros objetos relativos a esta
prática, para criar um grande altar. Parte da instalação que compôs a exposição original poderá ser vista agora no Brasil, na Janaina Torres Galeria. É o caso de Palma Votiva, um
ex-voto gigante construído pelo artista a fim de aludir à mão da divindade que
desce do céu, abrindo a realidade, pronta para intervir por seus fiéis. A obra
é materializada com uma mão suspensa produzida em latão e peças esculpidas por
repuxo, fundição, corte e solda. Em sua palma, estão incrustados 18 símbolos
recorrentes no trabalho de Doitschinoff, quase todos
autorais, como a Foice com Mariposa, o Intestino
Coroado e a Escada de Degraus Tortos.
A
série de esculturas de ex-votos em parafina compõe a parte inédita desta exposição. Entre as peças, os visitantes poderão ver os livros
nos quais foram esculpidas em relevo imagens de psicoativos como o ayahuasca, o
cogumelo Psilocibe cubensis, o cactos Peyote (Lophophora
williamsii) e a planta Morning Glory (Ipomoea). "Plantas,
fungos, extratos vegetais e animais com propriedades psicoativas estão
profundamente arraigados às práticas espirituais, medicinais e ritos de
passagem de povos nativos que tiveram sua população e sua cultura
marginalizada, dando lugar à lei, à cultura e à tradição do conquistador",
pontua Doitschinoff.
A
vídeo-performance Marcha ao Cvlto do Fvtvrv (2018),
criada para a exposição Above, So Below:
Portals, Visions, Spirits & Mystics, comissionada pelo IMMA, conta com
a participação especial de Iggor Cavalera (Sepultura,
Cavalera Conspiracy, Mixhell), Laima Leyton (Mixhell,
Soulwax), Donna McCabe (A Ritual Sea) e da escola de
samba dublinense Masamba. O vídeo é parte da série Cvlto
do Fvtvrv, obra multimídia no formato de uma "seita-igreja" com
muitos dos seus possíveis elementos áudio-visuais: ícones antropomórficos de
divindades, manifestações, hinos, publicações, uniformes, medalhas, cartões de
identificação, balcão de adesão e voluntariado.
A exposição ainda traz quatro desenhos, como Três
Mundos (110cm x 75cm, 2019) e O Homem Apropriado (110cm
x 75cm, 2019) e quatro pinturas, com destaque para a tela As Virtudes
da Idolatria (230cm x 194cm, 2018), em que corpos e cabelos de
figuras humanas formam uma estrutura geométrica, como uma espécie de mandala ou
estrela, em alusão ao símbolo do Cvlto do Fvtvrv. A obra traz
símbolos, ícones e referências recorrentes no trabalho do artista, como velas e
oferendas, que remetem à pesquisa em torno das maneiras através das quais as
pessoas procuram se comunicar ou acessar outras dimensões e o mundo espiritual.
Outro destaque, Panoptic Wave (230cm x 180cm, 2017), tem
composição inspirada na série de símbolos e
ícones criados pelo artista para a instalação 3 Planets – Panoptic
Wave, desenvolvida em parceria com o educativo do Museu de
Arte Moderna de São Paulo.
Serviço
Stephan Doitschinoff - Estaremos
Aqui Para Sempre
Local: Janaina Torres Galeria
Endereço: Rua Joaquim Antunes, 177 / cj 11, Pinheiros
Abertura: quarta-feira, 14 de agosto, quarta-feira, das 19h às 22h
Período expositivo: de 15 de agosto até 05 de outubro de 2019
Conversa com o curador e o artista na Galeria: sábado, 31 de agosto, das 16h às 18h
Visitação: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 15h (nos dias 31 de agosto e 05 de outubro, das 14h às 18h)
Telefone: (11) 3064-1507
Entrada gratuita
Fonte/Foto-reprodução-divulgação: Assessoria de Imprensa - Legenda:
Pinturas As Virtudes da Idolatria (2018) e Panoptic Wave (2017), de Stephan Doitschinoff
Postar um comentário