Ir a lugares
diferentes, viajar para outras cidades ou conhecer outros países, são
oportunidades para testarmos o nosso nível de respeito à diversidade. A
neurociência explica que demoramos 1/20 de segundo para formar um pensamento
sobre uma nova situação ou pessoa. O que vem a nossa cabeça quando nos
deparamos com uma situação nova, em uma cultura que não é a nossa, não deve ser
a única informação para formar nossa opinião. Amadurecer nossa primeira opinião
é o caminho para aproveitarmos as diferenças e aprendermos mais e melhor.
Vou usar esse ponto
como um norte, para dividir nesse artigo minhas experiências recentes no Chile.
Recentemente, eu e a minha sócia, Juliana Ramalho, fomos a Santiago para
participarmos de um Fórum da Weconnect, uma certificação internacional que
apoia empreendedorismo feminino.
Nosso segundo objetivo
era conhecer as ações de inclusão do mercado chileno, que recentemente começou
a implantar a Lei de Cotas. Nosso terceiro objetivo era aproveitar a
oportunidade para 'turistar', eu com a minha filha e minha sócia com o marido.
Nossas surpresas em
relação a inclusão já começaram quando ainda estávamos no Brasil. Pretendíamos
ficar no mesmo hotel do evento, porém, quando fizemos as reservas, descobrimos
que o quarto acessível, com estrutura para pessoas em cadeira de rodas, teria
um acréscimo de U$ 100 a mais por diária. Como assim? Isso mesmo, o quarto
acessível não se enquadrava na categoria mais simples, por isso teria diferença
de tarifa. Decidimos, então, ficar em outro hotel, que nos deu um upgrade e nos
acomodou nos melhores quartos sem nenhuma diferença de preço.
Este outro hotel,
ficava a três largos quarteirões do evento, eu consegui ir de cadeira, só
precisando de um empurrãozinho ou outro, em algumas guias de inclinação
exagerada.
Voltando a história de
formar opinião com insuficiente informação, poderíamos ter parado no primeiro
entrave e sair divulgando que, no Chile, os hotéis cobram mais por quartos
acessíveis e isso não é verdade. Fomos excepcionalmente bem atendidos no 2º
hotel.
No caminho para o
evento, nos deparamos com uma placa, sinalizando a reserva de vaga acessível
para pessoas com dificuldade de locomoção, utilizando o termo
"Minosválido". Menos válido? É isso? Sim! Esse era o termo utilizado
no Chile no passado e que ainda perpetua na cultura, devido ao pouco espaço que
o tema inclusão ocupa no país.
Em um ponto turístico,
um sanitário acessível de um Pátio de Restaurantes, tinha na porta outra placa
que quase me fez cair pra trás da cadeira de rodas: "Discapacitados".
Faltou trazer o sujeito antes do termo, como usamos aqui no Brasil, de acordo
com a convenção da ONU de 2006: "Pessoas com Deficiência", em
espanhol, a placa deveria ser "Persona com discapacidad". E ainda para
piorar o que já está ruim, o termo "discapacitados" está
"traduzido" para o inglês como Handicap, que surgiu com a imagem de
pessoas com deficiência pedindo esmola com chapéu na mão.
Num restaurante
badaladíssimo, dentro de um parque, com uma vista incrível, acessei o andar das
mesas por eu elevador de carga. No caso as cargas eram peixes e frutos do mar,
especialidade do restaurante, imaginem o cheiro do elevador de carga?
Na visita à vinícola
mais conhecida de Santiago, não havia acesso para eu fazer o tour
completamente. Apenas parte dele. Por conta disso, fiquei com a minha sócia
esperando o marido dela, completar o trajeto e se juntar a nós, para o momento
da experiência de degustação. Esta sim foi incrível!
E no último restaurante
que fomos, bem divertido porque reproduz o fundo do mar e sentimos que estamos
dentro da barriga de uma baleia, tivemos uma das mais incríveis experiências e
atendimento. Só não foi perfeita porque um dos cenários da atração ficava no
andar de cima que não era acessível. Gentilmente, os garçons se ofereceram para
me levar, o que até seria uma opção para a falta de acessibilidade, porém
precisei recusar por questões de segurança, já que o procedimento apresentava
riscos de queda e, na minha idade e com o meu histórico, prevenir quedas é o
melhor que tenho a fazer. Ainda assim, o passeio foi incrível, o atendimento
impecável e o jantar inesquecível.
Essa experiência nos
fez notar que avançar em terminologia é avançar em cultura inclusiva. Pelo que
percebemos, pessoas com deficiência não circulam no Chile, não são tão comuns.
O mercado de trabalho abriu recentemente a Lei de Cotas local, que obriga a
contratação de 1% do quadro de empregados, para empresas com mais de 100
colaboradores.
A fiscalização por lá
acontece de um jeito muito interessante. As empresas terão três anos para
incluir suas cotas. Até lá, serão cobradas constantemente e poderão cumprir as
exigências de três formas diferentes, durante os três primeiros anos:
1. Contratar o
percentual de 1% do quadro;
2. Contratar
fornecedores que tenham em seus quadros pessoas com deficiência, atuando
diretamente no negócio da empresa;
3. Apoiar alguma ação
de instituições que favoreçam o desenvolvimento de pessoas com deficiência,
pagando o dobro do valor da multa, que seria um salário mínimo por pessoa não
contratada.
As opções 2 e 3 só
serão aceitas nos três primeiros anos de fiscalização. Após esse período, as
empresas só terão a opção 1, que é a contratação de empregados com deficiência
de fato.
Fizemos turismo,
contatos, curtimos Santiago! Acredito que temos muito a agregar neste início de
inclusão corporativa lá. Percebemos que o que eles estão passando, já superamos
no Brasil e a nossa experiência poderá ajudá-los a diminuir o tempo de
maturidade para o tema e avançar mais rápido pelo caminho mais curto e
inclusivo.
Sobre a Talento Incluir
A Talento Incluir é uma
consultoria que promove a relação entre profissionais com deficiência e o
mercado de trabalho. Desenvolve projetos de consultoria, treinamento, seleção e
retenção, de profissionais com deficiência, além de preparar as empresas para
melhor atender a esse perfil de consumidor. Fundada há 10 anos, a Talento
Incluir já proporcionou emprego mais de 5.000 pessoas com deficiência a partir
de uma preparação exclusiva e diferenciada. Além disso, aplicou programas de
treinamentos exclusivos para inclusão corporativa em mais de 280 empresas de
diversos setores em todo Brasil, como Gol, Raia Drogasil, Bradesco, Tereos, PwC
PricewaterhouseCoopers, GRU Airport, entre outras.
Fonte/fotos-reprodução/divulgação:
Assessoria de Imprensa - Legenda: Placas de sinalização em Santiago, no Chile
(clique na imagem para ampliá-las) Carolina Ignarra e Juliana Ramalho, sócias
fundadoras da Talento Incluir
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